aberta ao mundo

Ando pela vida como se abertos estivessem todos os caminhos do mundo. (Mário Quintana)

27.4.05

Às vezes...

Às vezes, as palavras faltam para dar vazão ao infinito interno que explode...
Às vezes, os sentidos faltam, não permitindo que se sinta a luz, que se beije a cor, que se ouça a primavera, que se veja a doçura...
Às vezes, falta razão e saio louca, tateando a vida, apalpando sonhos, tropeçando em erros, escorregando em ilusões...
Às vezes, a sensibilidade me foge e, então, firo com ferro e me machuco nos espinhos; furo olhos e queimo a mão; aposto alto e sigo sem um tostão.
Às vezes, me faltam freios e sigo intensa, explodindo em lágrimas, dobrando-me às gargalhadas, arrebentando o coração, entregando a alma.
Às vezes, falta o empurrão, sigo arrastada, de braços dados à solidão, cabisbaixa, suportando o mundo nas costas e puxando o peso de toda a decepção.
Às vezes, não se enxerga mais o ideal, o objetivo, a motivação, sigo, então, alienada, me prendendo ao fútil, admirando o inútil e convivendo com a resignação.
Às vezes, é a amizade que me falta; ando sozinha, então, vou sem pressa, olhando para dentro, ouvindo meus próprios problemas, entrando em controvérsia, buscando soluções.
Às vezes, é só saudade, então socorre-me a tecnologia e, do outro lado do mundo, encontro meu conforto.
Às vezes, é só carência e basta o contato com o colo dela ou o ombro dele para que me sinta segura e calma.
Às vezes, é só o amor que me falta, mas, neste único caso, há que se confiar no acaso, é um sem-solução.


Desculpem-me, ainda esperando o transbordamento de sentimentos que me permitem a escrita insana, o explodir nos textos...

25.4.05

Uninspired

Desculpem-me, meus amigos, mas me falta inspiração.
Falta-me a inspiração oriunda de dias ensolarados, com cheiros de café fresco e pão quentinho.
Falta-me a inspiração de manhãs chuvosas, de moleza na rede, aquecida por cobertor humano. Falta-me também a inspiração da lua, há séculos que não levanto a face para me embriagar com sua luz (que nem é sua!)
Falta-me a inspiração dos ébrios, porque a bebida não tem sido mais uma fiel companheira.
Falta-me a inspiração dos poetas, movidos por todos os sentimentos humanos.
Falta-me a inspiração de Pollyanna, baseada num tal jogo do contente que nunca consegui jogar, por mais que tentasse.
Falta-me a inspiração dos despudorados, que utilizam as palavras para transbordar suas fantasias.
Falta-me a inspiração dos missionários e revolucionários, que passam pela Terra com o objetivo de mudar o mundo.
Falta-me a inspiração dos gênios e as grandes invenções e criações que lhes são peculiares.
Falta-me a inspiração dos grandes líderes e sua capacidade de persuasão incomum.
Falta-me a inspiração da ingenuidade infantil, não tenho mais contato com crianças.
Falta-me a inspiração do sonho possível, minha vida tem sido norteada por utopias.
Falta-me a inspiração da expectativa por boas novas, ando mesmo desacreditando de tudo.
Falta-me a inspiração da dor, não tenho sofrido nos últimos tmpos.
Falta-me a inspiração da revoada de borboletas, da taquicardia, da sudorese nas mãos...
Falta-me mesmo o brilho, a luz, a cor...
Falta-me um amor.

Desculpe, caros amigos, pouparei todos vocês de textos insossos. Não aguentaria um outro poema palatável. Faltou-me a inspiração! Eis o motivo da minha ausência.

18.4.05

Imprevisível Confusão: sobre os geminianos

Duplicidade em uma alma
Sou uma geminiana nata
Parte de mim agita; a outra, é calma
Metade te adora, metade te mata

Parte de mim diz sim com convicção
A outra parte repudia com indignação
Metade de mim é revolta, rebelião
Outra metade é comodismo, resignação

Às vezes um carinho, às vezes um carão
Às vezes escalopinho, às vezes pirão
Às vezes bom vinho, às vezes colonial limão
Às vezes o ninho, às vezes badalação
Às vezes sozinho, às vezes multidão
Às vezes desalinho, às vezes perfeição

E sendo um só duplo
sou eu mesma e sou o mundo
Admiras-te surpreso e mudo
deste imprevisível absurdo

Não gastes em vão teus argumentos
Não tentes entender o inexplicável
Não faças disto um teu lamento
porque meu ego é inexorável

*************
Estou pensando em você!

12.4.05

Da falta de tempo e outras coisas

Em alguns momentos, sinto uma vontade quase que incontrolável de procurar a sala de controle da minha vida e apertar o pause. Dar um tempo em tudo: dar um tempo na falta de tempo, dar um tempo na nostalgia, dar um tempo na correria... Parar isso tudo! Parar para refletir, repensar, rever minhas próprias decisões e escolhas, rever meu tempo e o que eu faço dele, com que gasto meus momentos. Parar, respirar fundo, relaxar a expressão preocupada, vestir uma saia rodada, uma blusa florida, sandálias rasteiras, cabeleira presa numa trança e sair sem compromisso, sem hora para voltar, sem nada programado, sem nada pra fazer. Andar na praia, talvez... Ver o sol se pôr.

Mas, contudo, porém, todavia, mato um leão por dia, tenho infinitas coisas diárias a fazer, tenho problemas enormes a resolver (verdadeiros e criados), tenho umas 4000 páginas por ler relativas às matérias das provas que farei semana que vem, tenho uma coluna a escrever, tenho que fazer as unhas e me depilar, tenho que arranjar um tempinho para namorar... Meu dia deveria ter, no mínimo, trinta horas. Em vez de saia rodada e sandália rasteira, me equilibro num salto fino e altíssimo e visto um terninho. Em vez de ver o sol se pôr, nem percebo o correr das horas dentro de uma sala iluminada, refrigerada, movimentada e fria. Em vez de pause, minha vida parece estar correndo em velocidade triplicada!

Oh, sim, eu estou tão cansada... Tanto que nem me reconheço mais em mim. Não tenho badalado tanto... Meus fins de semana agora são regados a filmes e pipoca de microondas com bastante manteiga (e Coca-cola, claro!). Sobra pouco tempo para mim e muita coisa por fazer. Meu cabelo chega já à cintura e tem uns três meses que quero cortar. Junta a preguiça, o sono da semana, a falta de grana, sempre tem uma desculpa...

Quero saber quando é que chega a hora do curtir? Quando é que chega a hora do aproveitar? Quando é que chega o momento do deleite? Porque se for pra ser assim pra sempre, eu desisto. Ouviram bem? I quit!
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O mundo blogueiro é mesmo extremamente surpreendente... Tem tanta gente que eu nunca vi, tanta gente que talvez até esbarre comigo na rua e eu nem sei quem é, mas que, por aqui, pelo blog, parece-me íntimo, parece que eu divido a vida da pessoa, que sou um grandíssimo amigo. Vocês acham possível a gente sentir falta de alguém que nunca teve, nunca viu pessoalmente? Alguém resolveu entrar na minha vida e fez um fuzuê!
**********
Preciso conhecer Florianópolis! Alguém disposto a conceder as passagens???
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Estresse com a perspectiva tenebrosa e aterrorizante de me formar no final do ano e ter que me tornar adulta de vez!

8.4.05

O que não vai...

“Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar”

Pois bem. Quando a gente conhece alguém, não tem a mínima noção do que aquela pessoa veio fazer na nossa vida. A gente não consegue prever, logo de cara, os motivos que fizeram justamente aquela pessoa aparecer na nossa vida, naquele momento, naquela circunstância. Parece que ela cai de pára-quedas. O fato é que algumas pessoas chegam e vão, outras ficam para sempre.

Resolvi escrever este post para alguém que entrou na minha vida bem devagar, demorou dois anos para que eu me desse conta de que ele estava lá e, para que ele me visse direito, alguns meses mais. Mas para que soubéssemos a importância de um na vida do outro... ah, isso, sim, foi rapidíssimo.

Convivemos durante três anos, vivemos uma história sem igual, fomos além do imaginávamos capazes... Conhecemos um ao outro de maneira indecifrável, éramos amigos e cúmplices, parceiros, amantes. A intimidade que existia, a sinceridade, a fidelidade, o sentimento, a entrega era para além do que eu mesma poderia conceber e pedir. Era simplesmente a perfeição.

A história, agora, não é mais a mesma. A convivência não é mais diária. A amizade não é mais completa. Existem atos e fatos que nos separaram. Mas este post é só pra agradecer este algo transcendental que nos une, esta coisa metafísica que nos liga.

Sei que você lê isso aqui sempre, embora nem sempre comente. Sei que você se preocupa comigo, embora não se sinta mais à vontade para interferir na minha vida (eu até prefiro que seja assim!). Sei que de alguma forma o vínculo não foi inteiramente quebrado, por isso mesmo venho publicamente agradecer e dizer que a recíproca é plenamente verdadeira. Aquilo tudo que existiu foi real, nossa história foi feliz, sim! Não importa o tempo que passe, não importa a distância que nos separe, não importa o que façam, falem, digam, comentem, você será sempre alguém verdadeiramente especial para mim.

Obrigada por existir!


Eis o texto que me fez sair do inferno astral:



SEJA UM IDIOTA
A idiotice é vital para a felicidade. Gente chata essa que quer ser séria, profunda e visceral sempre. Putz! A vida já é um caos, por que fazermos dela, ainda por cima, um tratado? Deixe a seriedade para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações, dores e afins. No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota!
Ria dos próprios defeitos. E de quem acha defeitos em você. Ignore o que o boçal do seu chefe disse. Pense assim: quem tem que carregar aquela cara feia, todos os dias, inseparavelmente, é ele. Pobre dele. Milhares de casamentos acabaram-se não pela falta de amor, dinheiro,
sexo, sincronia, mas pela ausência de idiotice. Trate seu amor como seu melhor amigo, e pronto.
Quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que tem conselho pra tudo, soluções sensatas, mas não consegue rir quando tropeça? hahahahahahahahaha!... Alguém que sabe resolver uma crise familiar, mas não tem a menor idéia de como preencher as horas livres de um fim de semana? Quanto tempo faz que você não vai ao cinema? É bem comum gente que fica perdida quando se acabam os problemas. E daí, o que elas farão se já não têm por que se desesperar? Desaprenderam a brincar. Eu não quero alguém assim comigo. Você quer? Espero que não.

Tudo que é mais difícil é mais gostoso, mas... a realidade já é dura; piora se for densa. Dura, densa, e bem ruim. Brincar é legal. Entendeu? Esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo de não brincar com comida, não falar besteira, não ser imaturo, não chorar, não andar descalço, não tomar chuva. Pule corda! Adultos podem (e devem) contar piadas, passear no parque, rir alto e lamber a tampa do iogurte. Ser adulto não é perder os prazeres da vida - e esse é o único "não" realmente aceitável. Teste a teoria. Uma semaninha, para começar. Veja e sinta as coisas como se elas fossem o que realmente são:passageiras. Acorde de manhã e decida entre duas coisas: ficar de mau humor e transmitir isso adiante ou sorrir... Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração! Aliás, entregue os problemas nas mãos de Deus e que tal um cafezinho gostoso agora?

"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance e viva intensamente antes que a cortina se feche" A. Jabor

6.4.05

Da saudade, dos problemas, de tudo um pouco

Ninguém quer saber dos problemas dos outros. Cada um de nós já tem problemas demais a resolver. Ninguém quer entrar em um blog e ler sobre as tristezas e melancolias daquela outra pessoa, que, muitas vezes, não sabemos nem quem é. Ninguém quer saber das aflições dos outros. Mas hoje eu estou triste e tenho milhões de motivos para estar!

Sinto-me só e vazia! Sinto que minha vida está passando e eu não estou tomando as rédeas dela. Fico vendo as coisas correrem sem me dar conta, as obrigações se avolumando, a maturidade chegando, cobranças, decisões e eu aqui, como uma criança que se perde no Centro da cidade às vésperas do Natal. Olho de um lado para o outro e não sei o caminho de casa; não vejo nenhum rosto familiar, apenas um mar de gente e sacolas; não me vejo preparada para decidir para que lado devo ir (será que é o caminho certo ou estarei me afastando ainda mais?); não sei se devo pedir ajuda a estranhos (e se eles não forem de confiança? Ou pior: forem ladrões de crianças?), não sei se paro, sento e choro; não sei se grito por socorro; não sei se finjo que sei tudo para que não percebam o quão frágil e sensível estou; não sei se escancaro minha situação para que alguém com bom coração me ajude...

Não pedi para a vida ser assim. Não escolhi estar aqui, nascer onde nasci, na família em que cresci, nesta época. No entanto, mesmo sem querer, estou aqui e me cobram, e pedem respostas, e argumentam... Bom mesmo era quando passávamos os dias de sunga, a colher frutos e flores e a tomar banho de sol, preocupando-nos apenas acerca de quem iria pescar o peixe da próxima refeição e quem iria casar com quem dentre os membros da tribo.

Essa sensação de incompetência, de impotência vem me torturando faz algum tempo. As pessoas para as quais eu poderia correr nos momentos de aflição, hoje em dia, sinto-os mais frágeis, sensíveis, perdidos, carentes que eu mesma. E, na verdade, não quero ser fonte de problema para ninguém, muito menos para eles dois. Queria poder ser a solução, mas não sei me virar sozinha. Nem sei se nasci para este mundo.

Sinto falta de alguém para me ouvir. E sinto mais falta ainda de alguém que está do outro lado do país, que nunca vi, que nem sei como é direito, mas que me faz muita falta agora, neste exato momento. Sinto falta dos meus amigos “europeus”, do carinho e da atenção deles para comigo. Sinto falta de ter tempo para ir à praia e de jogar conversa fora com os amigos à beira da piscina lá do prédio. Sinto falta de beijar na boca e sentir o corpo amolecendo (“neve num vulcão”, adoro essa metáfora). Sinto falta de mim mesma, da alegria que eu tinha aos dezessete, das cambalhotas que eu dava na quadra do colégio, do grêmio Antônio Sales, dos bilhetes divididos nas horas de aula, das risadas nos corredores e dos primeiros amores. Sinto falta daquele ar de “tenho meu futuro todo pela frente” quando do primeiro semestre da faculdade. Sinto falta de acreditar que poderíamos mudar o mundo. Sinto falta de crer que serei alguém no futuro. Sinto falta de acreditar no amor e em pessoas verdadeiras. Sinto falta de ser quem eu fui há alguns anos.

Preciso crescer, mas está doendo. Preciso aprender a mandar em mim mesma, porque é muito fácil ser independente, exigente, querer tudo do bom e do melhor quando quem paga a conta não é você, quando quem assume o risco não é você, quando a responsabilidade não é sua. Mas agora a responsabilidade é minha, sim, e eu tenho que transpor todos estes obstáculos. Preciso voltar a ser amiga dos meus amigos, porque me distanciei muito de alguns deles. Preciso voltar a acreditar em mim e que serei feliz. Preciso, mas hoje não! Hoje eu estou mal e quero ficar só, curtir minha fossa, ouvir Renato Russo e extrapolar minha melancolia com lágrimas que com certeza escorrerão pelo meu rosto. Amanhã, novo dia, outro humor. Eu me prometo!


1.4.05

Princesa X Loba

Não sabia que o post anterior poderia repercutir tanto. Imagine se eu explicasse as entrelinhas! Pois bem. Alguém (http://hablandoporloscodos.zip.net) se prontificou a criar uma versão feminina, que por sinal e a despeito da humildade da autora está a anos-luz da original masculina. Beijos, Can! Obrigada pela autorização!

"A princesa é linda; polida; doce; meiga; controlada; fala baixo; ri timidamente; não senta de perna aberta; nunca dá brecha; se veste como uma lady; não exagera nos decotes e sua saia mais curta não ultrapassa ao norte a fronteira dos joelhos.

A Loba, por sua vez, nem é tão linda assim. Olhando bem, qualquer um percebe que o que ela exala tem muito mais a ver com charme do que com beleza propriamente dita. Ela tampouco é tão polida, tão doce, tão meiga e tão controlada quanto a princesa. Na verdade, ela chega até a alguns acessos de má-educação e descontrole, não sendo raro alguém pensar, ou mesmo afirmar, em tom depreciativo, que ela tem um pé na favela. Em geral, ela fala alto, uiva quase, qual o animal. E não ri, gargalha, em alto e bom tom. E os incomodados que se retirem e saibam que ainda vão ser tachados por ela de "mal-amados". Ela é livre demais para sentar sempre de acordo com as aulas de boas-maneiras que aprendeu com a vovó ou na TV, e cuca-fresca demais para se importar com as possíveis brechas que possa proporcionar aos seus concidadãos, mesmo porque ela aprendeu e internalizou como poucas que quem já viu não se admira e quem nunca viu não sabe o que é.

A vestimenta - ah! a vestimenta! - essa é um capítulo à parte. A loba não economiza no decote em V, na mini-saia, nas transparências e no salto quinze. No guarda-roupa dela predominam o branco (para os dias em que ela está mais calminha, ou quer fingir que está), o preto e as cores vivas (como o amarelo-ouro, o verde-bandeira e o vermelho-sangue), enquanto que no da princesa abundam os tons pastéis, o bege e o verde musgo.

A loba pode até ter aderido à geração-saúde e não beber e nem fumar, mas é certo que ela namorará em pé, com considerável apreço. A princesa, por sua vez, ficará feliz e restará satisfeita com o tradicional papai-mamãe, desde que tenha sido bom para você. Quando bebe, a princesa oscila entre um Kir Royal, uma Marguerita ou um vinhozinho a dois. A loba com tendências etílicas vai de bourbon, ou tequila. Quando menos abastada, irá de cachaça.

A princesa não raro terá cabelos curtos ou médios. A loba os terá compridos, daqueles que parecem pedir uns puxõezinhos na hora H. Ambas, no entanto, os trarão sempre muito bem cuidados. Nisso elas serão asolutamente iguais. Mas só nisso.

Enquanto a princesa pinta as unhas de Renda, a loba as pinta de Rebu. Enquanto a princesa ouve Djavan, a loba ouve Placebo. Enquanto a princesa sonha com o Tom Cruise, a loba sonha com o Colin Farrell. A princesa segue um caminho que alguma coisa tem a ver com o Sandy´s way of life. O caminho da loba está mais para o Madonna´s way of life.

Os adjetivos com a letra E que cabem para a princesa são: educada e elegante. A loba ostentará os títulos de exuberante e exótica.

É certo que a princesa também guarda na manga o seu quê de pistoleira (segundo minha amiga e xará Candie Gloss, toda mulher tem um pouco de santa e de pistoleira), mas ela dissimula, esconde, sufoca, não o deixa vir a tona, a não ser em raríssimas ocasiões, e depois dela se certificar da concretude e da surdez absoluta das quatro paredes que a cercam. A loba desarreda. É descontrolada por natureza e não consegue conter muito bem a pistoleira que vive dentro dela. A santa ela ignora, porque não quer ser e porque sabe que, mesmo que quisesse, jamais lograria sucesso.

A princesa sonha em casar de véu e grinalda, como manda o figurino. A loba só casará nessa beca por acidente ou crise circunstancial de identidade. Em qualquer dos casos, quando ela voltar a si, terá sido tarde demais e ela se perguntará para sempre como é que aquilo foi lhe acontecer.

A princesa perdoa as indefinições, as crises existenciais, as sacanagens e puladas de cerca do amado. É ingênua ou se faz de. Faz de conta que não percebe quando o olhar dele está distante e seu coração está a quilômetros da sala de casa. Acredita na hombridade daquele por quem caiu de amores até mesmo depois que ele lhe tenha provado o contrário.

A loba é cruel, impiedosa, atroz. E não vai perdoar jamais o amado, nem que ele compre a floricultura, a H. Stern (ou a Vivara) e a fábrica da Godiva inteiras. Bastará que ele "mije fora do vaso" uma única vez. Desde que ela descubra, é claro.

Uma é o tipo de mulher que o homem geralmente se apaixona. A outra, o tipo de mulher que o homem geralmente escolhe para casar. E digo mais, a loba pode até se transformar em princesa (embora em essência ela continue loba), desde que receba o beijo do príncipe certo. Mas a princesa... essa nunca, em tempo algum, conseguirá se transformar em loba."