aberta ao mundo

Ando pela vida como se abertos estivessem todos os caminhos do mundo. (Mário Quintana)

28.12.04

Para o Ano Novo!

Algum poeta já falou que deve ter sido um grande sábio este que resolveu dividir o tempo em frações anuais, pois permitiu a renovação da esperança, da crença em grandes realizações, do sentimento de que “daqui pra frente tudo vai ser diferente”; enfim, do começar de novo, zerado, e modificar tudo no porvir. Quando se está esgotado, desanimado, cansado dos tapas na cara, das quedas, dos tropeções vem o fim de ano e faz com que acreditemos que o futuro será melhor.

No momento em que todos fazemos a listinha de desejos e pedidos para o Ano Novo, em que projetamos sonhos e planos para um futuro próximo, em que se programa grandes realizações e conquistas ainda maiores; paro e reflito sobre FELICIDADE.

Passamos a vida inteira buscando incessantemente por ela, desejando-a, sonhando com ela. Mas porque colocamo-la sempre à frente, no futuro??? Condicionamos sua existência a QUANDO’s a SE’s. Empurramos a felicidade para um momento além, para um depois. “SE comprasse aquela casa!”; “SE trocasse o carro!”; “SE ganhasse na loto!”; “SE tivesse dinheiro!”; “QUANDO fizer aquela viagem!”; “QUANDO encontrar o príncipe encantado”; “QUANDO tiver um tempinho”... Se e quando, serei feliz!

Sublimamos as pequenas realizações do dia-a-dia. Esquecemo-nos das alegrias cotidianas. Ficamos tão atentos e fixados no ponto final da estrada que esquecemos de apreciar as flores do caminho, o sol sobre a cabeça, o vento no rosto. Os amigos que fazem companhia... Vamos em linha reta, obstinados, afinal de contas, somos pessoas determinadas, com objetivos de vida bem definidos e muita garra e vontade de chegar lá! O erro é que a obstinação, a determinação, a garra, a vontade acabam por ocultar a beleza do gerúndio, do indo, crescendo, andando, evoluindo, aprendendo, desenvolvendo, VIVENDO.

Descobri que de nada serve fazer listinha de projetos para o ano que vem porque a probabilidade de efetivá-los é exatamente igual a de não os conseguir. Porém, a decepção com o advento da segunda é devastadora. Para que planos e projetos e cronogramas e estratagemas, se ao final a gente acaba mesmo sendo surpreendido pelas peças pregadas pelo destino??? A inexorabilidade do futuro não permite que percamos tempo com detalhes ínfimos. Aprendi que o que importa é o momento presente, o tempo presente, o hoje, porque o amanhã é por demais incerto.

Um dia desses um grande amigo me perguntou se o fim do Direito, em sendo a felicidade do homem, não seria inatingível. Respondi com veemência que não, absolutamente. Embora o homem seja insaciável por natureza, o Direito busca garantir e proteger, foi isso que respondi, a felicidade do gerúndio, do caminho, do percurso, dos pequenos detalhes do cotidiano que permitem que continuemos na estrada.

Em vez de nos fixarmos no adiante, fitemos o presente com um olhar mais criterioso e percebamos quantas maravilhas nos rodeiam. Em vez de perder tanto tempo calculando, planejando, esquematizando, tentando ser alguém no futuro; gastemos nossas horas a fazer as coisas mais aprazíveis. Agradeçamos pela vida; pela comida deliciosa de domingo; pela família reunida, mesmo que seja apenas em datas comemorativas; pelos grandes amigos de todas as horas e pelos colegas de de vez em quando; pelo nascer do sol na volta das baladas ou pelo sol na praia aos domingos ou pelo banho de chuva; pela saúde e energia para dançar a noite inteira e, às vezes, sobreviver aos porres; pela tranqüilidade de acordar ao meio-dia do sábado na sua própria cama; pela possibilidade de fazer planos e sonhar sem ter que pensar antes no que se terá para almoçar; pelo orgulho que se pode proporcionar aos pais; pelo brilho nos olhos daquela pessoa mais que especial quando ouve você dizer que a ama; por estar vivo e ter oportunidade de vivenciar tudo isso. Só isso! Para que mais???

Vivamos como folhas secas, à mercê do vento. Não temos como saber, a priori, aonde ele nos levará (nem teremos nunca); mas podemos degustar as surpresas do destino. E, se este não for tão bom assim, que saibamos esperar a brisa que nos guiará até lá. Lá? Onde é lá? Isso importa??? Deixe-se levar, viva o novo, aproveite! Abra os braços, a mente, o coração, o espírito. Deixe a vida te guiar. Para 2005, só tenho um plano: estarei ABERTA AO MUNDO!

21.12.04

Então, é Natal!

Sempre no final do ano acontecem as mesmas coisas: apelos comerciais estimulando a venda de mercadorias, a figura travestida do Papai Noel, o aguçamento dos sentimentos humanitários e do assistencialismo, da caridade. É sempre assim. Muito embora reconheça a superficialidade (para não dizer falsidade) do afloramento destes sentimentos, não prescindo da reflexão e da introspecção nestes dias.

É um momento único para mim, o final do ano. Avaliar os erros e acertos, o amadurecimento, sentir o passar do tempo e a idade adulta chegar, reexaminar o que fiz de bom para com os outros e evoluir. Todo ano esta nostalgia me invade, esta auto-avaliação toma lugar e ganha espaço e mil promessas de um ano novo melhor são feitas. Porém, o escopo deste texto é desejar os melhores votos aos meus amigos.

O valor das amizades foi a maior lição deste ano e para agradecê-los poderia me utilizar de inúmeras frases clichês e jargões de fim de ano; mas não quero uma simples mensagem de Natal. Quero algo profundo, algo que vá além das superficialidades e futilidades, algo que tocasse meus amigos e fizesse com que entedessem o quão importantes são em minha vida.

Desejo aos meus amigos um Natal e um Ano Novo repleto de felicidades, não apenas estas felicidades decorrentes de conquistas financeiras ou bens materiais, mas as pequenas felicidades cotidianas, que, na maioria das vezes, passam despercebidas, a felicidade do sorriso saudável de seu filho, o beijo carinhoso da sua mãe, do happy hour com os amigos depois de um dia exaustivo, da ligação daquela pessoa pela qual você esperara semanas, do acordar com cantos de bem-te-vis, da brisa do mar num domingo de verão, do cobertor em dia de chuva, de um beijo apaixonado, de ver o sol nascer na volta de uma farra...

Desejo aos meus amigos grandes descobertas, não a invenção da cura do Câncer ou da AIDS, tampouco a descoberta de vida extraterrestre, anseio apenas que cada um consiga descobrir-se apaixonado, descobrir-se capaz, descobrir-se lindo, descobrir-se completo, descobrir-se feliz, descobrir-se único, descobrir-se eficiente, descobrir-se necessário, descobrir-se amado, descobrir-se amigo.

Desejo aos meus amigos amadurecimento, não decorrente de grandes sofrimentos ou dores pungentes, mas causado por um olhar mais perspicaz sobre o mundo, sobre a vida e sobre as pessoas. O aprendizado decorrente de amor. Desejo aos meus amigos muito amor. Não apenas aquele voluptuoso, decorrente de uma paixão avassaladora, mas também o amor fraternal e puro dos seus.

Desejo aos meus amigos, enfim, o que todo mundo deseja aos entes queridos: felicidades, realizações e amor! “Muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender!”. FELIZ NATAL E PRÓSPERO ANO NOVO!

20.12.04

Em vão

Este negócio de blog virou realmente uma mania, passo muito tempo lendo os textos de amigos e de amigos de amigos. Muitas coisas interessantes, muitas afinidades, muito pensamentos. E quanto mais navego neste mundo virtual, e quanto mais experiências corriqueiras vivo nessa minha história modorrenta, mais vontade tenho de relatar tudo isso.

Pois bem. Lendo os textos de Patrícia Martins, uma colega de escritório (que não trabalha mais aqui) que escreve divinamente bem (www.cacomigo.blogger.com.br), encontrei o seguinte trecho em uma de suas poesias:

“E eu, depois de uma noite barulhenta
tento tirar o gosto de homens infiéis
tento lavar o cheiro das noites fúteis diante dos primeiros pássaros que sobrevoam o céu

Quando tentaram destruir meus sonhos sem sequer saber quais são eles
Onde a descrença do amor me causou dor e desespero
Vontade de parar aonde está e iniciar uma nova busca
Procurando dentre homens vazios o que eu já achei e sei aonde está
Procurar pelo quê então?”

A mesma inquietação, a mesma angústia, a mesma dor... As palavras de Patrícia expressam de maneira indefectível tudo o que existe em mim.

No primeiro momento, a sensação de que será uma grande noite, muitos amigos e muita diversão (geralmente é assim mesmo). Banho demorado, super produção, roupa para arrasar... Arrasar o que ou quem??? Para quê isso tudo?

Na festa, são mil sorrisos, muito barulho, muitos rapazes, muitas frases de efeito, num sei quantos “você é linda”, num sei quantos “quer casar comigo?”, num sei quantos tantas outras bobagens... Mas o que isso me acrescenta? Quantos dentre eles estão falando a verdade? Quantos estão verdadeiramente interessados em mim, em ouvir o que eu penso sobre um dia de sol ou sobre a política externa brasileira? Quantos teriam a disponibilidade de me ouvir contar piadas, ou a história do macaco que subiu na carnaubeira para comer milho (cláááássica!), ou a história da minha vida, as minhas desilusões ou me ouvir discorrer sobre a importância social do Direito ou sobre a esperança que tenho no desenvolvimento do Brasil??? Quantos agüentariam as histórias sem fim de minha mãe e as piadas sem graça de meu irmão ou as caras carrancudas de meu pai ciumento? Quantos suportariam minha TPM? Quantos?

Quando os primeiros raios solares começam a iluminar o mundo em que vivo, retorno para casa, exausta, pés doloridos, maquiagem derretida, olheiras profundas; mas o cansaço maior é na alma. Mais uma noite solitária. Muitos sorrisos sem intenção, muitos abraços sem carinho, muitos beijos sem amor, muito sexo sem paixão; isso e somente isso a gente encontra nestas noitadas.

Em casa, entro logo no banheiro e, como Patrícia, tento tirar o gosto de homens infiéis, tento lavar o cheiro das noites fúteis, livrar-me da fumaça das superficialidades, da aspereza das inúmeras mentiras contadas, do sabor das feridas abertas, da marca do inútil e descomprometido fica. Tento, em vão, arrancar de mim a solidão da aurora. Em vão.

Nas inúmeras noitadas de minha vida, pouquíssimas vezes encontrei alguém que realmente valesse à pena. Alguém que realmente mexesse fundo, que acendesse todo aquele vulcão químico que culmina com borboletas na barriga, pernas bambas, suor e saliva. Nestes achados excepcionais, encontrei verdadeiras caixas de surpresas, pessoas que mudaram minha vida, transformaram paradigmas.

Mas, como são exceções e não a regra, venho batendo a cabeça na parede nos últimos meses. Ao contrário da Patrícia, eu ainda não achei nem sei onde está e vou buscando em homens vazios aquele que complementará a minha vida e minh’alma. Busca infeliz, com certeza, mas inescusável. Sei que ELE está por aí, à minha procura também. De alguma forma, mais cedo ou mais tarde, ELE virá até aqui.

Prefiro acreditar nisso a pensar que “não existe o amor, apenas provas de amor”. Pode ser uma visão utópica, romântica, mas me alimenta e permite que as peças que esta vida estúpida nos prega pareçam apenas um erro qualquer, cuja justificativa fica evidente na frase “é porque tinha que ser assim”. Sigo errando e aprendendo, até que encontre o caminho certo.

15.12.04

Pessoas!

Como saber, ao conhecer alguém, que essa pessoa estará ao seu lado para sempre? Como reconhecer a verdade na companhia de outrem? Como desvendar os mistérios intrínsecos a cada ser humano e desfrutar a genialidade de cada um?

Vejam bem, não estou aqui destrinchando um amor romântico, mas apenas falando das pessoas, aquelas que aparecem na sua vida, chegam devagar, mas para ficar. Vêm sem nada nas mãos, a gente nem desconfia que vão se apossar do nosso coração, mas de repente nutre um amor incondicional e inexorável por este alguém. Não são assim os grandes amores e as grandes amizades de nossas vidas?

Para cada momento da minha vida, para cada instante alegre ou triste, furtivo ou longo, intenso ou delicado, dramático ou caótico, hilário (whatever!), sempre tive algum amigo ao meu lado. Mas é realmente curioso pensar em quem, dos amigos atuais, estará comigo em dez anos.

Se me fizesse esta pergunta há dez anos, com certeza, não obteria como resposta nenhuma das 4 amigas com quem me encontrei no último sábado. Éramos cinco meninas, vivendo as loucuras e doçuras que a adolescência proporciona. Éramos cinco meninas sonhando, nos divertindo, cantando... éramos cinco meninas, estudantes colegiais, fardadas (primeiro, uma farda cinza horripilante; depois, uma farda azul!), felizes, diferentes.

Cada uma delas foi minha melhor amiga em algum momento. Primeiro, Nunu, numa fase em que tudo que importava era cair na balada, contar para todo mundo que eu já andava em festas e chegar em casa de manhã cedinho. Eu estava ao lado dela quando ela o conheceu. Como saber que aquela história em frente ao palco duraria tantos anos, casamento e filhos?!?!

Depois, a Ju, numa fase em que estudar era essencial. Dividíamos, livros, colas, provas, remédios para não dormir e virar a noite lendo tudo, devorando livros. Confraternizávamos juntas as melhores notas e o concurso de beleza que ela ganhou. Fomos juntas ao baile de formatura do primeiro grau. Mais tarde, passamos no mesmo vestibular para a mesma faculdade, parecia que a nossa dupla dinâmica seria eterna, algumas coisas deram errado para mim $$$. Não fiquei lá, mas no fim, não foi tão mal assim.

Depois, a Te, na minha fase mais romântica, de músicas, diários, disparates, poesias e amores. Foi uma grandissíssima amiga para tudo e para sempre. “For all those times you stood by me, for all the truth that you made me see, for all the joy you brought to my life, for all the wrong that you made right...I'll be forever thankfull”.

E a Debbie, com seu jeito meigo, seus olhos verdes, seu sorriso, pronto pra tudo, minha ouvinte e confidente nas inúmeras histórias que lhe contei pelo messenger num passado mais recente. A mais presente em minha vida atualmente.

Cada uma delas sabe a importância desta amizade que já comemora um decênio (pelo menos para mim! Algumas delas se conhecem de antes!). Um decênio! Uma década! Quem diria! Hoje, cinco mulheres com vidas atarefadíssimas, ocupadíssimas, corridíssimas, atribuladíssimas. Cinco mulheres com o mesmo coração, o mesmo sorriso e o mesmo sentimento de dez anos atrás.

Esta irmandade que somos nós (porque alguém já disse que amigo é o irmão que a gente escolhe), embora carregue uma carga pesada de melancolia e nostalgia dos tempos remotos em que éramos só adolescentes sem tantas responsabilidades, com o passar do tempo nos uniu ainda mais e fez-nos entender e dimensionar o real valor disso tudo que vivemos juntas.

A maturidade chegou para todas e com ela todos os problemas inerentes, todas as responsabilidades, preocupações e frustrações. Todavia, resta, no coração de cada uma, uma força tênue, mas pulsante, que reporta a este passado feliz, em que cada uma esteve ao lado das outras e toda a preocupação da vida se resumia a passar de ano ou tirar dez em trigonometria (de preferência, para impressionar o Laerti).

Na verdade, nada mudou. Somos as mesmas meninas, com os mesmos sonhos, os mesmos planos e o mesmo coração. Só que hoje, temos tudo isso num horizonte mais próximo. Não estamos mais fardadas, mas vestimos carapuças sociais que nos impõem segundo a profissão que escolhemos. Temos os mesmos medos, de sofrer de amor, de ficar sozinha. As mesmas necessidades de alegria e companhia. Hoje somos cinco mulheres que, adultas, descobriram (pelo menos, eu descobri): a certeza de que se é alguém especial na vida de outro.

Meninas, é óbvio que este texto fala de nós! Vocês são realmente muito especiais. Amo-as todas e admiro-as cada dia mais. Sei que posso contar com todas e a recíproca é plenamente verdadeira. Na hora do aperreio, corre pra cá. É só ligar! Quem diria, quem de nós imaginava que nos corredores daquele saudoso CLF encontraríamos amizades para a vida inteira?
Só para não esquecerem: AMO VOCÊS DEMAIS!
PS: O encontro rolou dia 11/12/2004
PS2: Debbie, o churrasco tem que rolar!

9.12.04

Tia Zuleide

Dois anos é muito tempo... Tempo suficiente para esquecer um grande amor. Tempo suficiente para fazer um curso superior. Tempo suficiente para um novo processo eleitoral. Dois anos é muito tempo, mas me pareceu por demais exíguo para esquecer a influência desta mulher em minha vida!

Há exatos dois anos a presença desta pessoa iluminada, neste plano, evaporou. Porém, seu exemplo, suas palavras, sua alegria contagiante, sua luz, seu amor, sua força persiste aqui, cada vez que lembramos do seu semblante.

A tia Zuleide sempre foi para mim uma figura querida. Quando criança, era ela que resolvia as confusões em que nos metíamos e intervinha para apaziguar os ânimos das amigas que teimavam em ficar de mal. Na adolescência, empolgou-se com minhas conquistas, vibrava com minhas vitórias, acompanhou de perto meu amadurecimento, dividiu sorrisos e lágrimas, alegrias e tristezas. Mais recentemente, foi essencial na batalha do vestibular, lembro-me bem das inúmeras vezes em que entrava lá em casa, vestida em um simples robe florido, enquanto eu estudava na mesa da sala, e dizia de maneira doce e sempre sorrindo: “estuda, estuda, bruxinha!”. Adulta, posso reconhecer indubitavelmente a imensa força de vontade presente em seu espírito, a vontade de viver acima de qualquer coisa, a alegria e o amor pelo próximo, a forma mais serena de levar a vida.

Sempre afirmei com convicção que ela era muito mais minha tia que qualquer uma das irmãs da minha mãe ou do meu pai. A atuação desta mulher em minha vida é algo que jamais esquecerei. Como disse anteriormente, não há que se falar em fim quando a pessoa permanece dentro de nós.

Hoje, tia Zuleide, quero que saibas que continuamos nossas vidas, estamos todos bem, não nos afastamos nem de sua princesa nem de sua santinha, cuidamos delas, nos preocupamos com elas, ambas dariam muito orgulho à Senhora hoje. Esteja em paz, porque por aqui é tudo por demais incerto, mas é justamente essa inexorabilidade da vida e da morte que torna tudo tão mágico. Você subsiste em cada um que conheceu esta personalidade inigualável e a pessoa que somos, que sou, hoje deve muito a este exemplo de ser humano que você foi.

Dois anos não são nada ante uma vida inteira de dedicação, amor, amizade e alegria!

8.12.04

Isabel Allende

Apaixonei-me por Isabel Allende quando li pela primeira vez “A casa dos espíritos”. Um livro forte, palpitante, intenso... Amei tanto que reli inúmeras vezes e leio com paixão tudo o que dela cai em minhas mãos. Namorei o livro “Paula” por alguns meses. Ia à livraria, pegava-o, folheava-o, adorava a história, as emoções que o livro transpirava até pela capa (com uma foto de Paula). Semana passada, enfim, comprei o tal livro, não imaginei que ele fosse tudo isso.

Tenho que admitir que sou uma pessoa que, digamos, se emociona facilmente; mas passei as últimas cem páginas do livro a chorar. Devorei-o em 4 dias (são quase 500 páginas)!!! Preferi ficar lendo-o a sair, em pleno sábado. Tenho certeza que essa história marcará a minha vida para sempre.

Isabel (olha a intimidade) começa uma narrativa simultânea, com dois tempos diferentes: primeiro a história de sua família, desde seus bisavós, que ela conta a Paula em coma, na UTI de um hospital madrilenho; a segunda é a própria história da doença de Paula, nos dias atuais, e de sua aflição e de toda a família pela saúde desta jovem mulher de 28 anos. No final do livro as pontas destas duas histórias se unem, porque a história de Paula também é a história de Isabel. Percorrido todo o trajeto histórico, a história destas pessoas fortes e interessantes que compõem aquela família (bisavós, seus avós, mãe, pai, padrasto, sua própria história até chegar ao presente, quando do sofrimento pela doença da filha e a própria história de Paula) resta-nos oferecida.

O livro além de uma história de amor, em todos os aspectos em que este pode se manifestar, conta também a história do Chile (o sobrenome ilustre da escritora evidencia que ela esteve presente em momentos importantes daquele país), e, de alguma forma, serve para refletir acerca da história de toda a América Latina. Excelente!!!

Apesar destes liames óbvios, acho que o principal mesmo foi a repercussão do livro em mim. O infortúnio de Paula, que aos 28 anos foi acometida de uma patologia rara, que revirou seu metabolismo e fez com que ela definhasse até a morte, no auge de sua vida, com um ano de casada, após ter terminado o mestrado em psicologia numa universidade americana me fez refletir muito sobre o destino.

A morte é algo por demais inexorável. Enquanto jovens, investimos toda nossa energia no futuro, tentando plantar coisas boas, amadurecer, nos desenvolver, trasformarmo-nos em seres humanos melhores... Mas para que tudo isso se, de repente, sem razão, a foice iniludível da Morte pode ceifar a vida, obstruir tantos planos, fulminar todos estes sonhos??? Porque, qual o intuito desta aberração, roubar a energia de alguém com tanto a acrescentar, com tanto a oferecer??? Privar o mundo, os parentes, os amigos, os colegas de trabalho da convivência com um ser humano tão especial é, no mínimo, um despautério!

Mas quem foi que disse que as coisas são racionais assim? Quem foi que disse que tem que existir lógica em tudo? Quem somos nós para querer entender o ininteligível? As coisas são assim e não há razão para isso. Não há justificativa, não há que perguntarmo-nos o porquê. Com Paula, foi assim que aconteceu, mas pode ser muito diferente comigo, com meus amigos.
O que eu faria se eu soubesse que morreria cedo, em breve? Pergunta intrigante, mas eu não sei o que responder. Acho que a certeza de que terei tempo para realizar todos os meus sonhos, conhecer todos os lugares aos quais pretendo ir, aprender todas as coisas que quero aprender me dá segurança para assumir a postura de “deixa a vida me levar!”. Espero apenas que não esteja jogando fora o tempo que me resta.