aberta ao mundo

Ando pela vida como se abertos estivessem todos os caminhos do mundo. (Mário Quintana)

8.12.04

Isabel Allende

Apaixonei-me por Isabel Allende quando li pela primeira vez “A casa dos espíritos”. Um livro forte, palpitante, intenso... Amei tanto que reli inúmeras vezes e leio com paixão tudo o que dela cai em minhas mãos. Namorei o livro “Paula” por alguns meses. Ia à livraria, pegava-o, folheava-o, adorava a história, as emoções que o livro transpirava até pela capa (com uma foto de Paula). Semana passada, enfim, comprei o tal livro, não imaginei que ele fosse tudo isso.

Tenho que admitir que sou uma pessoa que, digamos, se emociona facilmente; mas passei as últimas cem páginas do livro a chorar. Devorei-o em 4 dias (são quase 500 páginas)!!! Preferi ficar lendo-o a sair, em pleno sábado. Tenho certeza que essa história marcará a minha vida para sempre.

Isabel (olha a intimidade) começa uma narrativa simultânea, com dois tempos diferentes: primeiro a história de sua família, desde seus bisavós, que ela conta a Paula em coma, na UTI de um hospital madrilenho; a segunda é a própria história da doença de Paula, nos dias atuais, e de sua aflição e de toda a família pela saúde desta jovem mulher de 28 anos. No final do livro as pontas destas duas histórias se unem, porque a história de Paula também é a história de Isabel. Percorrido todo o trajeto histórico, a história destas pessoas fortes e interessantes que compõem aquela família (bisavós, seus avós, mãe, pai, padrasto, sua própria história até chegar ao presente, quando do sofrimento pela doença da filha e a própria história de Paula) resta-nos oferecida.

O livro além de uma história de amor, em todos os aspectos em que este pode se manifestar, conta também a história do Chile (o sobrenome ilustre da escritora evidencia que ela esteve presente em momentos importantes daquele país), e, de alguma forma, serve para refletir acerca da história de toda a América Latina. Excelente!!!

Apesar destes liames óbvios, acho que o principal mesmo foi a repercussão do livro em mim. O infortúnio de Paula, que aos 28 anos foi acometida de uma patologia rara, que revirou seu metabolismo e fez com que ela definhasse até a morte, no auge de sua vida, com um ano de casada, após ter terminado o mestrado em psicologia numa universidade americana me fez refletir muito sobre o destino.

A morte é algo por demais inexorável. Enquanto jovens, investimos toda nossa energia no futuro, tentando plantar coisas boas, amadurecer, nos desenvolver, trasformarmo-nos em seres humanos melhores... Mas para que tudo isso se, de repente, sem razão, a foice iniludível da Morte pode ceifar a vida, obstruir tantos planos, fulminar todos estes sonhos??? Porque, qual o intuito desta aberração, roubar a energia de alguém com tanto a acrescentar, com tanto a oferecer??? Privar o mundo, os parentes, os amigos, os colegas de trabalho da convivência com um ser humano tão especial é, no mínimo, um despautério!

Mas quem foi que disse que as coisas são racionais assim? Quem foi que disse que tem que existir lógica em tudo? Quem somos nós para querer entender o ininteligível? As coisas são assim e não há razão para isso. Não há justificativa, não há que perguntarmo-nos o porquê. Com Paula, foi assim que aconteceu, mas pode ser muito diferente comigo, com meus amigos.
O que eu faria se eu soubesse que morreria cedo, em breve? Pergunta intrigante, mas eu não sei o que responder. Acho que a certeza de que terei tempo para realizar todos os meus sonhos, conhecer todos os lugares aos quais pretendo ir, aprender todas as coisas que quero aprender me dá segurança para assumir a postura de “deixa a vida me levar!”. Espero apenas que não esteja jogando fora o tempo que me resta.