aberta ao mundo

Ando pela vida como se abertos estivessem todos os caminhos do mundo. (Mário Quintana)

24.11.04

Pare, agora!

Muitos comentam que a adolescência é uma fase difícil, de conflitos internos, conflitos de gerações, conflitos com professores, com irmãos, com amigos.... Na adolescência, a vida é encarada na base do tudo ou nada, vida e morte, tudo ao extremo. É o extremo das sensações, é o extremo das alegrias, é o extremo das tristezas, é o extremo dos hormônios, enfim a adolescência é a fase em que a gente leva na cara para ver se consegue encarar a vida.

Pois bem. Apesar de dizerem tudo isso acerca desta fase, para mim, ela foi cor de rosa com lantejoulas. Embora meus pais tenham se separado logo no início da minha adolescência, embora não tivesse dinheiro suficiente para fazer tudo o que eu queria, embora tenha brigado inúmeras vezes com meus pais, embora tenha tido ataques histéricos com meu irmão.... O que quero dizer é que não foi tudo um mar de rosas, mas não me enquadro no perfil da juventude transviada. Era uma menina normal, com planos, sonhos, esperanças e a VIDA INTEIRA pela frente.

É este o problema agora. De todas as fases da vida pelas quais passei, a atual, sem sombra de dúvidas, é a mais difícil. Hoje, não tenho mais a vida inteira pela frente. Minha vida é agora. As oportunidades aparecem agora, as escolhas devem ser feitas agora, as grandes decisões, o homem da minha vida, minha carreira, “tudo ao mesmo tempo agora”. Ante isso tudo, confusão.

Estou aqui, no alto dos meus vinte e poucos anos, cheia de dúvidas (mais do que nunca estive), não sei se me sinto capaz de decidir, de escolher, não experimentei ainda todas as alternativas. Escolher que curso fazer no vestibular é difícil (outro dilema adolescente), porém, é possível entrar na faculdade, desistir, escolher outro.... Todavia, escolher o rumo da sua vida... Bom, são outros 500.

É como se todos os holofotes estivessem voltados para você: a pressão de fazer o que é certo, ser bem sucedido, magro, bonito, feliz... Até então, poderia correr para os braços da mamãe, do papai, para as cadeiras do psicólogo, para tias, professores... eu poderia me amparar em alguém e sob ele esconder minha insegurança e meu medo de que dê tudo errado. As coisas não estavam sob minha responsabilidade. É isso!!!! RESPONSABILIDADE. Se existe uma adolescente drogada, a culpa é dos pais. Um adolescente criminoso, a culpa é dos pais. Um adolescente preguiçoso e que vai mal na escola, a culpa é dos pais. Mas agora a culpa é minha mesmo.

Parece que a fase que vai da infância à fase adulta acontece dos 20 aos 25 anos. É nesta fase que tudo, absolutamente tudo, na sua vida se resolve, se define. A obrigação de me tornar adulta, saber o que quero realmente fazer para o resto da vida, encontrar O cara da minha vida, estabilizar-me financeiramente, sair da sombra gostosa e quente da casa dos meus pais, tornar-me independente.... O mundo está aí, esperando para que eu entre nele, esperando as respostas que eu não sei, aguardando minha decisão acerca da minha vida. Tenho o livre arbítrio para escolher, mas não posse decidir quando fazê-lo.

Posso ser sincera? Eu queria mesmo era ficar nessa vidinha para sempre: faculdade (que lugar melhor para fazer amigos???), estágio (a gente até trabalha pesado, mas o dinheiro que ganha não é para pagar as contas no fim do mês, mas para as inúmeras noitadas, porres, pequenas viagens etc), solteira (são inúmeras as oportunidades de se conhecer alguém interessante pelo mundo afora. Ou não???)... Quero que a minha vida continue assim, como é. Não quero crescer agora. Dá para parar o tempo???

Ei, você que controla isso, dá um pause aí para que eu possa aproveita mais um pouquinho... Ainda tem um monte de coisa que quero fazer, ainda tem um monte de viagens, muitos lugares e pessoas por conhecer, muitos quilômetros para rodar... Não dá para parar este troço, não???