aberta ao mundo

Ando pela vida como se abertos estivessem todos os caminhos do mundo. (Mário Quintana)

9.12.04

Tia Zuleide

Dois anos é muito tempo... Tempo suficiente para esquecer um grande amor. Tempo suficiente para fazer um curso superior. Tempo suficiente para um novo processo eleitoral. Dois anos é muito tempo, mas me pareceu por demais exíguo para esquecer a influência desta mulher em minha vida!

Há exatos dois anos a presença desta pessoa iluminada, neste plano, evaporou. Porém, seu exemplo, suas palavras, sua alegria contagiante, sua luz, seu amor, sua força persiste aqui, cada vez que lembramos do seu semblante.

A tia Zuleide sempre foi para mim uma figura querida. Quando criança, era ela que resolvia as confusões em que nos metíamos e intervinha para apaziguar os ânimos das amigas que teimavam em ficar de mal. Na adolescência, empolgou-se com minhas conquistas, vibrava com minhas vitórias, acompanhou de perto meu amadurecimento, dividiu sorrisos e lágrimas, alegrias e tristezas. Mais recentemente, foi essencial na batalha do vestibular, lembro-me bem das inúmeras vezes em que entrava lá em casa, vestida em um simples robe florido, enquanto eu estudava na mesa da sala, e dizia de maneira doce e sempre sorrindo: “estuda, estuda, bruxinha!”. Adulta, posso reconhecer indubitavelmente a imensa força de vontade presente em seu espírito, a vontade de viver acima de qualquer coisa, a alegria e o amor pelo próximo, a forma mais serena de levar a vida.

Sempre afirmei com convicção que ela era muito mais minha tia que qualquer uma das irmãs da minha mãe ou do meu pai. A atuação desta mulher em minha vida é algo que jamais esquecerei. Como disse anteriormente, não há que se falar em fim quando a pessoa permanece dentro de nós.

Hoje, tia Zuleide, quero que saibas que continuamos nossas vidas, estamos todos bem, não nos afastamos nem de sua princesa nem de sua santinha, cuidamos delas, nos preocupamos com elas, ambas dariam muito orgulho à Senhora hoje. Esteja em paz, porque por aqui é tudo por demais incerto, mas é justamente essa inexorabilidade da vida e da morte que torna tudo tão mágico. Você subsiste em cada um que conheceu esta personalidade inigualável e a pessoa que somos, que sou, hoje deve muito a este exemplo de ser humano que você foi.

Dois anos não são nada ante uma vida inteira de dedicação, amor, amizade e alegria!