aberta ao mundo

Ando pela vida como se abertos estivessem todos os caminhos do mundo. (Mário Quintana)

28.10.05

Abraça tua loucura antes que seja tarde demais*

Sentada numa mesinha de um café na Paulista, ela apenas observa: são carros, centenas de carro, milhares deles, atravessando a avenida, rasgando motores nas oito faixas em mão dupla. É tudo cinza: o céu, os prédios, a fumaça que escapa... As pessoas, não. As pessoas são diferentes, coloridas, travestidas de tantos arquétipos que me deixam confusa.
Uma menina fala inglês com alguém no celular. Dois rapazes de terno passam de mãos dadas. Um outro com o cabelo punk-mocaino pintado de azul. Esse de preto se demora olhando-a, ela cora e desvia o olhar. Em poucas horas, não estará mais aqui e ela quer muito absorver o lugar. Um grupo de estudantes passa fazendo barulho, gargalhando e ela se distrai.
De repente voltam à memória quadros de um passado não tão distante. Lembra-se da época de escola, da turma, da bagunça na sala de aula. Foi há tempos... Agora, tudo o que ela queria era permanecer ali, aproveitar esta cidade, extrair dela o que há de melhor, viver nessa grande metrópole. Saudade do calorzão de lá, vontade de ficar aqui; pensa na família que não mais estará e no futuro promissor daqui; imagina as reuniões de turma em que ela não estará e saboreia cultura qye extravasa por todos os lugares.
Parte o coração e é hora de mudar.
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Não tenho palavras pra descrever o arrepio, o encantamento, o deslumbre que é o Musical O Fantasma da Ópera, em exibição no Teatro Abril, em SP. Aconselho a todos que tiverem a oportunidade de assisti-lo. É caro, mas vale o dobro do que se paga.
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Caminhando na cidade cinza, passei por uma pequena livraria, numa das esquinas da Paulista, e encontri mais um livro dele, um dos mais festejados e adorado autor das minhas amigas blogueiras, Caio Fernando Abreu. Eis um trecho do conto Dodecaedro do livro Triângulo das Àguas:
"Então invadirias subitossuave a minha porta e me falarias de coisas tão caras a mim, feitas de frágeis, falsos encantamentos, como aquele botão de rosa branca que te dei faz algum tempo, e depois se abriu espantosamente, feito uma estrela, (...) nem eu nem tu saberíamos dizer de quem partiu o início do gesto, a mão de um tocaria redondaleve a pele do rosto do outro para que começasse a acontecer tudo aquilo de beijos e suores e salivas e gritos de prazer, misturados num sonho não sei se meu o teu/meu corpo que já não sabia até onde era meu ou teu, sentindo sempre, desde antes do início do gesto, de toque, que não haveria depois, e na manhã seguinte tonta, (...) atravessaria o dia meio cega para descobrir vagamente que, além de mentiras, terias deixado em mim a semente de uma história complicada (...) até enfim te concluir primário, tosco, terrês, nunca capaz de compreender que além desta nítida dor cravada que por muitas vezes beirou a morte, porque te queria como se quer, vadia, humanamente, deixavas também um encontro que não aconteceu, que talvez nada esclareça, porque tudo é de vidro, porque brotou da confusão apaixonada que despertasse em mim, que te julguei esclarecendo a vida, peça final de um quebra-cabeça, peça inicial de outro, de um excesso de líquidos e desejos para sempre incompletos, mas que ficará, ainda que ninguém a entenda, esses ramos, esses castelos, como não ficaste, porque eras só mensagem de algo que ainda não sei."
PS: QUEM NÃO TEM UMA HISTÒRIA ASSIM???
*O título deste post tb é dele. Precisava colocá-lo aqui.

24.10.05

Lá vai ela

Lá vai ela de novo pra CIDADE GRANDE, para aquele lugar em que ela quer morar, crescer, aprender... Lá vai ela de novo! Notícias só na volta.

PS: Fantasma da Ópera on the schedule! See you, guys!

23.10.05

10 things that I hate about you

1) HATE quando me trata como amiga da vizinha da casa de praia da sua avó (principalmente quando estamos com uma grande turma de amigos);
2) HATE quando não atende (nem retorna) minhas ligações;
3) HATE quando não me deixa saber your weekend´s schedule;
4) HATE o fato de não se sentir à vontade para falar sobre algumas coisas;
5) HATE quando mente;
6) HATE quando não sou prioridade na sua vida (yes, you are in my life! like you don't know it!!!);
7) HATE ouvir histórias sobre as outras tantas garotas interessantes;
8) HATE adorar passar todo meu tempo livre com você;
9) HATE como consegue fazer minha raiva passar soooo quickly;
10) HATE this huge crash on you that I have!

17.10.05

Cotidiano

Acorda com preguiça de levantar. Abre os olhos e fecha rapidinho pra que o sono não se vá. Pede baixinho para o tempo passar só um pouco mais devagar. E fica deitada, rolando de um lado para o outro da cama, com preguiça de levantar. Sabe que vai ter que cair na rotina. É segunda feira de novo e a semana se inicia com todas as responsabilidades e obrigações: contas, papéis, prazos, atrasos, contratos... A cabeça não tem tempo de descansar, não dá tempo de ver o sol se levantar, não dá tempo de respirar profundo, abrir a janela, sorrir pro mundo, ouvir o cantar dos passarinhos na árvore que dá para a janela do quarto.
Toma um banho frio pra despertar, come rápido o café, desce correndo as escadas do prédio, se mete dentro do carro e liga o motor já pensando nas pendências da semana anterior. Não aprecia a vista. Às vezes, até se esquece de desejar bom dia. Anda com passos largos e afoitos, olha o relógio amarelo no pulso e já são quase oito, corre, abre a porta, espirra devido ao choque térmico provocado pelo ar-condicionado. E fica lá, naquela sala gelada, em frente aquela tela iluminada, gastando os melhores anos da sua vida, perdendo o solzão e o céu azul, perdendo a companhia dos amigos, perdendo as horas de conversa fiada à sombra de um coqueiro... Tem que ficar lá, sujeitando-se à tendinites, hérnia de disco, viroses... Perde seu tempo ganhando dinheiro, pra ter dinheiro pra comprar seu tempo, pra pagar por juventude, pra bancar seus prazeres.
Esquece que a vida tá passando. Esquece que o sol tá lá fora e se concentra, digita, calcula, articula, faz o que tem que fazer. E a vida se vai... A juventude se vai... A oportunidade se vai...
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Saudades de escrever aqui!

13.10.05

Verdade Verdadeira

Tenho tanta coisa guardada aqui, dentro de mim, que muitas vezes fica difícil organizar tudo e ir soltando devagar. Preferível explodir, vomitar, botar pra fora, que mitigar a dor de ver a coisa em erupção, escorrendo como lava de dentro de mim e queimando tudo ao redor.
Tenho tanta coisa guardada dentro de mim, que por vezes questiono se sou capaz mesmo de sentir tudo, de anestesiar o coração, de continuar respirando com tanto amor comprimido, com tantos gritos engolidos, com tantos soluços presos na garganta, com tudo...
Tenho tanta coisa guardada dentro de mim, que, às vezes, me pergunto se vou conseguir lembrar de tudo isso quando já não puder repetir; me indago se saberei reconhecer a felicidade que vivi e a tristeza que senti; se terei memória dos lugares que conheci e dos amigos que fiz; interrogo-me se guardarei os momentos em que me faltaram o ar e a compostura.
Há tanto sentimento em mim, que chego a acreditar que sou mesmo sentimental, que é tudo tangível, sensível, superficial... Tudo tão à flor da pele que brisa de praia machuca por causa da areia e qualquer um pode me derrubar.
Sou tão sensível que, às vezes, nem consigo expressar.
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Desculpem a ausência: SP, depois Natal... Fiquei muito tempo fora, mas já estou de volta!

4.10.05

Alguma coisa aconteceu no meu coração


A cidade é cinza, bem como oo céu, que é assim o tempo inteiro. As pessoas são frias e os termomêtros cooperam com essa frieza de caráter, e espírito, e alma. É tudo suntuoso. É tudo enorme, grandioso, largo, magnífico. A cidade me ganhou. Não sei se pelo frio elegante, se pela chuva de oportunidades, se pela vida noturna agitadíssima, se pelo ar cosmopolita, se pela variedade de estilos e pessoas, se pela infinidade de machos maravilhosos, se pela plenitude cultural, se pelo apelo intelectual, se pelo vício desenvolvimentista, se pela necessidade de expansão e trabalho... Não sei. Mas senti-me recepcionada com um tapete vermelho, como se o futuro abrisse-me seus braços, como um pai, e dissesse: "Vem, minha filha, que eu estava só esperando você crescer". E eu no regaço deste pai cruel e ausente, me deito e me delicio. Não consigo esconder o brilho nos olhos nem controlar o frio que me percorre a espinha quando penso na possibilidade de retornar a este aconchego, mas sei que há algo esperando por mim. E eu vou desvendar...