aberta ao mundo

Ando pela vida como se abertos estivessem todos os caminhos do mundo. (Mário Quintana)

17.10.05

Cotidiano

Acorda com preguiça de levantar. Abre os olhos e fecha rapidinho pra que o sono não se vá. Pede baixinho para o tempo passar só um pouco mais devagar. E fica deitada, rolando de um lado para o outro da cama, com preguiça de levantar. Sabe que vai ter que cair na rotina. É segunda feira de novo e a semana se inicia com todas as responsabilidades e obrigações: contas, papéis, prazos, atrasos, contratos... A cabeça não tem tempo de descansar, não dá tempo de ver o sol se levantar, não dá tempo de respirar profundo, abrir a janela, sorrir pro mundo, ouvir o cantar dos passarinhos na árvore que dá para a janela do quarto.
Toma um banho frio pra despertar, come rápido o café, desce correndo as escadas do prédio, se mete dentro do carro e liga o motor já pensando nas pendências da semana anterior. Não aprecia a vista. Às vezes, até se esquece de desejar bom dia. Anda com passos largos e afoitos, olha o relógio amarelo no pulso e já são quase oito, corre, abre a porta, espirra devido ao choque térmico provocado pelo ar-condicionado. E fica lá, naquela sala gelada, em frente aquela tela iluminada, gastando os melhores anos da sua vida, perdendo o solzão e o céu azul, perdendo a companhia dos amigos, perdendo as horas de conversa fiada à sombra de um coqueiro... Tem que ficar lá, sujeitando-se à tendinites, hérnia de disco, viroses... Perde seu tempo ganhando dinheiro, pra ter dinheiro pra comprar seu tempo, pra pagar por juventude, pra bancar seus prazeres.
Esquece que a vida tá passando. Esquece que o sol tá lá fora e se concentra, digita, calcula, articula, faz o que tem que fazer. E a vida se vai... A juventude se vai... A oportunidade se vai...
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Saudades de escrever aqui!