aberta ao mundo

Ando pela vida como se abertos estivessem todos os caminhos do mundo. (Mário Quintana)

20.12.04

Em vão

Este negócio de blog virou realmente uma mania, passo muito tempo lendo os textos de amigos e de amigos de amigos. Muitas coisas interessantes, muitas afinidades, muito pensamentos. E quanto mais navego neste mundo virtual, e quanto mais experiências corriqueiras vivo nessa minha história modorrenta, mais vontade tenho de relatar tudo isso.

Pois bem. Lendo os textos de Patrícia Martins, uma colega de escritório (que não trabalha mais aqui) que escreve divinamente bem (www.cacomigo.blogger.com.br), encontrei o seguinte trecho em uma de suas poesias:

“E eu, depois de uma noite barulhenta
tento tirar o gosto de homens infiéis
tento lavar o cheiro das noites fúteis diante dos primeiros pássaros que sobrevoam o céu

Quando tentaram destruir meus sonhos sem sequer saber quais são eles
Onde a descrença do amor me causou dor e desespero
Vontade de parar aonde está e iniciar uma nova busca
Procurando dentre homens vazios o que eu já achei e sei aonde está
Procurar pelo quê então?”

A mesma inquietação, a mesma angústia, a mesma dor... As palavras de Patrícia expressam de maneira indefectível tudo o que existe em mim.

No primeiro momento, a sensação de que será uma grande noite, muitos amigos e muita diversão (geralmente é assim mesmo). Banho demorado, super produção, roupa para arrasar... Arrasar o que ou quem??? Para quê isso tudo?

Na festa, são mil sorrisos, muito barulho, muitos rapazes, muitas frases de efeito, num sei quantos “você é linda”, num sei quantos “quer casar comigo?”, num sei quantos tantas outras bobagens... Mas o que isso me acrescenta? Quantos dentre eles estão falando a verdade? Quantos estão verdadeiramente interessados em mim, em ouvir o que eu penso sobre um dia de sol ou sobre a política externa brasileira? Quantos teriam a disponibilidade de me ouvir contar piadas, ou a história do macaco que subiu na carnaubeira para comer milho (cláááássica!), ou a história da minha vida, as minhas desilusões ou me ouvir discorrer sobre a importância social do Direito ou sobre a esperança que tenho no desenvolvimento do Brasil??? Quantos agüentariam as histórias sem fim de minha mãe e as piadas sem graça de meu irmão ou as caras carrancudas de meu pai ciumento? Quantos suportariam minha TPM? Quantos?

Quando os primeiros raios solares começam a iluminar o mundo em que vivo, retorno para casa, exausta, pés doloridos, maquiagem derretida, olheiras profundas; mas o cansaço maior é na alma. Mais uma noite solitária. Muitos sorrisos sem intenção, muitos abraços sem carinho, muitos beijos sem amor, muito sexo sem paixão; isso e somente isso a gente encontra nestas noitadas.

Em casa, entro logo no banheiro e, como Patrícia, tento tirar o gosto de homens infiéis, tento lavar o cheiro das noites fúteis, livrar-me da fumaça das superficialidades, da aspereza das inúmeras mentiras contadas, do sabor das feridas abertas, da marca do inútil e descomprometido fica. Tento, em vão, arrancar de mim a solidão da aurora. Em vão.

Nas inúmeras noitadas de minha vida, pouquíssimas vezes encontrei alguém que realmente valesse à pena. Alguém que realmente mexesse fundo, que acendesse todo aquele vulcão químico que culmina com borboletas na barriga, pernas bambas, suor e saliva. Nestes achados excepcionais, encontrei verdadeiras caixas de surpresas, pessoas que mudaram minha vida, transformaram paradigmas.

Mas, como são exceções e não a regra, venho batendo a cabeça na parede nos últimos meses. Ao contrário da Patrícia, eu ainda não achei nem sei onde está e vou buscando em homens vazios aquele que complementará a minha vida e minh’alma. Busca infeliz, com certeza, mas inescusável. Sei que ELE está por aí, à minha procura também. De alguma forma, mais cedo ou mais tarde, ELE virá até aqui.

Prefiro acreditar nisso a pensar que “não existe o amor, apenas provas de amor”. Pode ser uma visão utópica, romântica, mas me alimenta e permite que as peças que esta vida estúpida nos prega pareçam apenas um erro qualquer, cuja justificativa fica evidente na frase “é porque tinha que ser assim”. Sigo errando e aprendendo, até que encontre o caminho certo.