aberta ao mundo

Ando pela vida como se abertos estivessem todos os caminhos do mundo. (Mário Quintana)

1.4.05

Princesa X Loba

Não sabia que o post anterior poderia repercutir tanto. Imagine se eu explicasse as entrelinhas! Pois bem. Alguém (http://hablandoporloscodos.zip.net) se prontificou a criar uma versão feminina, que por sinal e a despeito da humildade da autora está a anos-luz da original masculina. Beijos, Can! Obrigada pela autorização!

"A princesa é linda; polida; doce; meiga; controlada; fala baixo; ri timidamente; não senta de perna aberta; nunca dá brecha; se veste como uma lady; não exagera nos decotes e sua saia mais curta não ultrapassa ao norte a fronteira dos joelhos.

A Loba, por sua vez, nem é tão linda assim. Olhando bem, qualquer um percebe que o que ela exala tem muito mais a ver com charme do que com beleza propriamente dita. Ela tampouco é tão polida, tão doce, tão meiga e tão controlada quanto a princesa. Na verdade, ela chega até a alguns acessos de má-educação e descontrole, não sendo raro alguém pensar, ou mesmo afirmar, em tom depreciativo, que ela tem um pé na favela. Em geral, ela fala alto, uiva quase, qual o animal. E não ri, gargalha, em alto e bom tom. E os incomodados que se retirem e saibam que ainda vão ser tachados por ela de "mal-amados". Ela é livre demais para sentar sempre de acordo com as aulas de boas-maneiras que aprendeu com a vovó ou na TV, e cuca-fresca demais para se importar com as possíveis brechas que possa proporcionar aos seus concidadãos, mesmo porque ela aprendeu e internalizou como poucas que quem já viu não se admira e quem nunca viu não sabe o que é.

A vestimenta - ah! a vestimenta! - essa é um capítulo à parte. A loba não economiza no decote em V, na mini-saia, nas transparências e no salto quinze. No guarda-roupa dela predominam o branco (para os dias em que ela está mais calminha, ou quer fingir que está), o preto e as cores vivas (como o amarelo-ouro, o verde-bandeira e o vermelho-sangue), enquanto que no da princesa abundam os tons pastéis, o bege e o verde musgo.

A loba pode até ter aderido à geração-saúde e não beber e nem fumar, mas é certo que ela namorará em pé, com considerável apreço. A princesa, por sua vez, ficará feliz e restará satisfeita com o tradicional papai-mamãe, desde que tenha sido bom para você. Quando bebe, a princesa oscila entre um Kir Royal, uma Marguerita ou um vinhozinho a dois. A loba com tendências etílicas vai de bourbon, ou tequila. Quando menos abastada, irá de cachaça.

A princesa não raro terá cabelos curtos ou médios. A loba os terá compridos, daqueles que parecem pedir uns puxõezinhos na hora H. Ambas, no entanto, os trarão sempre muito bem cuidados. Nisso elas serão asolutamente iguais. Mas só nisso.

Enquanto a princesa pinta as unhas de Renda, a loba as pinta de Rebu. Enquanto a princesa ouve Djavan, a loba ouve Placebo. Enquanto a princesa sonha com o Tom Cruise, a loba sonha com o Colin Farrell. A princesa segue um caminho que alguma coisa tem a ver com o Sandy´s way of life. O caminho da loba está mais para o Madonna´s way of life.

Os adjetivos com a letra E que cabem para a princesa são: educada e elegante. A loba ostentará os títulos de exuberante e exótica.

É certo que a princesa também guarda na manga o seu quê de pistoleira (segundo minha amiga e xará Candie Gloss, toda mulher tem um pouco de santa e de pistoleira), mas ela dissimula, esconde, sufoca, não o deixa vir a tona, a não ser em raríssimas ocasiões, e depois dela se certificar da concretude e da surdez absoluta das quatro paredes que a cercam. A loba desarreda. É descontrolada por natureza e não consegue conter muito bem a pistoleira que vive dentro dela. A santa ela ignora, porque não quer ser e porque sabe que, mesmo que quisesse, jamais lograria sucesso.

A princesa sonha em casar de véu e grinalda, como manda o figurino. A loba só casará nessa beca por acidente ou crise circunstancial de identidade. Em qualquer dos casos, quando ela voltar a si, terá sido tarde demais e ela se perguntará para sempre como é que aquilo foi lhe acontecer.

A princesa perdoa as indefinições, as crises existenciais, as sacanagens e puladas de cerca do amado. É ingênua ou se faz de. Faz de conta que não percebe quando o olhar dele está distante e seu coração está a quilômetros da sala de casa. Acredita na hombridade daquele por quem caiu de amores até mesmo depois que ele lhe tenha provado o contrário.

A loba é cruel, impiedosa, atroz. E não vai perdoar jamais o amado, nem que ele compre a floricultura, a H. Stern (ou a Vivara) e a fábrica da Godiva inteiras. Bastará que ele "mije fora do vaso" uma única vez. Desde que ela descubra, é claro.

Uma é o tipo de mulher que o homem geralmente se apaixona. A outra, o tipo de mulher que o homem geralmente escolhe para casar. E digo mais, a loba pode até se transformar em princesa (embora em essência ela continue loba), desde que receba o beijo do príncipe certo. Mas a princesa... essa nunca, em tempo algum, conseguirá se transformar em loba."