Mais uma de amor
Lis saíra de casa atordoada. A briga com Hugo estraçalhara seu coração. As lágrimas saíam em grossos fios, os olhos vermelhos, uma dor de cabeça, um aperto no peito, uma angústia.... Não se sentia bem. Não conseguia atentar para mais nada. As lembranças das injúrias, das palavras venenosas, das farpas lançadas na noite anterior ainda lhe queimavam por dentro. Passara o dia tentando se concentrar nos seus afazeres, mas, em verdade, não produzira nada no trabalho. No entanto, precisava seguir sua rotina, precisava ir à faculdade aquela noite.
Dirigia atônita. Quase bateu em três carros pelo caminho! Conduzia seu veículo como se tivesse ligado o piloto automático. Só passava a primeira para arrancar, quando os carros de trás buzinavam e o sinal estava verde há tempos... A voz de Hugo não lhe deixava, a frieza com que ele falara aquelas coisas horríveis... Lis chorava!
Alguém no carro ao lado olhava-a como se lamentasse... “Foda-se!”, pensava ela. Queria ficar só com sua dor! O carro de Lis seguia o fluxo do tráfego e a zoada do motoqueiro que passava de raspão pelo seu retrovisor fazia com que ela voltasse a prestar atenção no trânsito e deixasse os pensamentos que remetiam sempre a Hugo.
Novamente, parou num sinal vermelho. A conversa da noite anterior reverberava dentro dela. De repente, um carro azul passa na rua perpendicular, no banco do passageiro alguém parecia Hugo; no do motorista, uma moça sorri. Será mesmo ele? Lis não sabia que horas eram, não sabia se estava atrasada para aula daquela professora chata, não importava se iria perder a revisão para a prova final, ela engatou a primeira e saiu correndo atrás do tal carro azul.
Uma perseguição arriscada. Às seis da tarde, o trânsito é congestionado, tem muita gente na rua neste horário. Todos estão saindo dos escritórios, dos colégios, indo às faculdades, as suas casas... Lis cortava os carros, ultrapassou o sinal vermelho, subiu um pouco uma calçada... As multas já não importavam! Inúmeras outras transgressões foram cometidas até que se aproximasse do carro azul.
Naquele momento, o carro já estava com os vidros fechados e a película escurecedora impedia-a de enxergar perfeitamente os passageiros. Não via bem, mas era Hugo, deduziu pelos gestos. Ele sorria, passava a mão no cabelo, falava muito e utilizava suas mãos para ser mais persuasivo. Viu quando ele puxou a motorista e beijou-lhe a boca.
Lis chorava em seu carro, sozinha, descompensada... Lembrava-se da primeira vez que saíram, do primeiro aniversário de namoro, dos beijos bem dados de Hugo, dos versos que lhe escrevera, da forma inigualável que faziam amor...
Uma súbita fúria tomou conta de Lis. Não conseguiu se controlar: abriu a porta no meio do engarrafamento, deixou a chave na ignição, o carro ligado, sua bolsa, suas coisas da faculdade, desceu e foi até o carro azul. Bateu no vidro do passageiro, Hugo abriu-o surpreso, não imaginava que fosse encontrá-la ali, àquela hora, do nada, assim... A moça ao lado era mais bonita do que ela imaginara e pudesse conceber.
Lis gritava, muitas pessoas paradas ao redor olhavam a cena esdrúxula, ela chorava, soluçava e tentava (em vão) magoar Hugo, que apenas se sentia constrangido com a situação pela qual fazia a outra moça passar, tentava protegê-la pedindo que Lis fosse embora e os deixasse em paz. Lis não ouvia-o, pedia-lhe para não procurá-la nunca mais, xingava-o, chutou o pneu do carro, bateu no capô, bradou alto inúmeros adjetivos infames, injuriou o amor que sentia, execrou seu tormento e chorou convulsivamente... Quando não pôde mais falar porque a voz lhe faltou, sentou um tapa na cara de Hugo e deu de ombros, devastada, arrasada!
Retornou ao seu carro. Nem verificou se seus pertences continuavam lá. Arrancou cantando pneus. Fugiu só Deus sabe para onde, a cento e vinte por hora. Sentia que a tristeza se esvaía à medida que a velocidade aumentava. Pegou uma rodovia federal que levava até Porto Alegre. Uma estrada conhecida por suas péssimas condições. Seu excesso de velocidade foi verificado por inúmeros radares... Lis cegou-se pelas lágrimas, pela dor, pelo aperto no peito e bateu em um caminhão que estava parado no acostamento.
Uma folha de caderno solta no que sobrou do seu carro, chamou-me a atenção*:
“Meu carro vai seguindo o fluxo do tráfego
A moto desliga meu piloto automático
Não sei que horas são, só sei que vou correndo atrás
Não sei se volto mais...
A multa já não importa
Não vejo bem, mas é você pelos gestos
Eu penso em seus beijos, versos e sexo
Não me procure, então
Minha presença tanto faz
Não se preocupe mais
A culpa não interessa tanto
Durma em Paz
Me sinto bem à cento e vinte por hora
Assim se vai toda tristeza embora...
Descendo a rua, subindo a minha cabeça
Desejo a lua, preciso que ela apareça depressa”
Dirigia atônita. Quase bateu em três carros pelo caminho! Conduzia seu veículo como se tivesse ligado o piloto automático. Só passava a primeira para arrancar, quando os carros de trás buzinavam e o sinal estava verde há tempos... A voz de Hugo não lhe deixava, a frieza com que ele falara aquelas coisas horríveis... Lis chorava!
Alguém no carro ao lado olhava-a como se lamentasse... “Foda-se!”, pensava ela. Queria ficar só com sua dor! O carro de Lis seguia o fluxo do tráfego e a zoada do motoqueiro que passava de raspão pelo seu retrovisor fazia com que ela voltasse a prestar atenção no trânsito e deixasse os pensamentos que remetiam sempre a Hugo.
Novamente, parou num sinal vermelho. A conversa da noite anterior reverberava dentro dela. De repente, um carro azul passa na rua perpendicular, no banco do passageiro alguém parecia Hugo; no do motorista, uma moça sorri. Será mesmo ele? Lis não sabia que horas eram, não sabia se estava atrasada para aula daquela professora chata, não importava se iria perder a revisão para a prova final, ela engatou a primeira e saiu correndo atrás do tal carro azul.
Uma perseguição arriscada. Às seis da tarde, o trânsito é congestionado, tem muita gente na rua neste horário. Todos estão saindo dos escritórios, dos colégios, indo às faculdades, as suas casas... Lis cortava os carros, ultrapassou o sinal vermelho, subiu um pouco uma calçada... As multas já não importavam! Inúmeras outras transgressões foram cometidas até que se aproximasse do carro azul.
Naquele momento, o carro já estava com os vidros fechados e a película escurecedora impedia-a de enxergar perfeitamente os passageiros. Não via bem, mas era Hugo, deduziu pelos gestos. Ele sorria, passava a mão no cabelo, falava muito e utilizava suas mãos para ser mais persuasivo. Viu quando ele puxou a motorista e beijou-lhe a boca.
Lis chorava em seu carro, sozinha, descompensada... Lembrava-se da primeira vez que saíram, do primeiro aniversário de namoro, dos beijos bem dados de Hugo, dos versos que lhe escrevera, da forma inigualável que faziam amor...
Uma súbita fúria tomou conta de Lis. Não conseguiu se controlar: abriu a porta no meio do engarrafamento, deixou a chave na ignição, o carro ligado, sua bolsa, suas coisas da faculdade, desceu e foi até o carro azul. Bateu no vidro do passageiro, Hugo abriu-o surpreso, não imaginava que fosse encontrá-la ali, àquela hora, do nada, assim... A moça ao lado era mais bonita do que ela imaginara e pudesse conceber.
Lis gritava, muitas pessoas paradas ao redor olhavam a cena esdrúxula, ela chorava, soluçava e tentava (em vão) magoar Hugo, que apenas se sentia constrangido com a situação pela qual fazia a outra moça passar, tentava protegê-la pedindo que Lis fosse embora e os deixasse em paz. Lis não ouvia-o, pedia-lhe para não procurá-la nunca mais, xingava-o, chutou o pneu do carro, bateu no capô, bradou alto inúmeros adjetivos infames, injuriou o amor que sentia, execrou seu tormento e chorou convulsivamente... Quando não pôde mais falar porque a voz lhe faltou, sentou um tapa na cara de Hugo e deu de ombros, devastada, arrasada!
Retornou ao seu carro. Nem verificou se seus pertences continuavam lá. Arrancou cantando pneus. Fugiu só Deus sabe para onde, a cento e vinte por hora. Sentia que a tristeza se esvaía à medida que a velocidade aumentava. Pegou uma rodovia federal que levava até Porto Alegre. Uma estrada conhecida por suas péssimas condições. Seu excesso de velocidade foi verificado por inúmeros radares... Lis cegou-se pelas lágrimas, pela dor, pelo aperto no peito e bateu em um caminhão que estava parado no acostamento.
Uma folha de caderno solta no que sobrou do seu carro, chamou-me a atenção*:
“Meu carro vai seguindo o fluxo do tráfego
A moto desliga meu piloto automático
Não sei que horas são, só sei que vou correndo atrás
Não sei se volto mais...
A multa já não importa
Não vejo bem, mas é você pelos gestos
Eu penso em seus beijos, versos e sexo
Não me procure, então
Minha presença tanto faz
Não se preocupe mais
A culpa não interessa tanto
Durma em Paz
Me sinto bem à cento e vinte por hora
Assim se vai toda tristeza embora...
Descendo a rua, subindo a minha cabeça
Desejo a lua, preciso que ela apareça depressa”
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Tiago, meu mano querido, happy birthday to you!
Happy Birthday para os inúmeros aniversariantes deste dia, tanto para os que estão neste mundo quanto para os que não estão mais.
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*A poesia na folha do caderno de Lis é a letra da música "A moto" do Kid Abelha. A história é fictícia, imaginei-a para a letra desta música que adoro.
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