aberta ao mundo

Ando pela vida como se abertos estivessem todos os caminhos do mundo. (Mário Quintana)

21.3.05

A felicidade de volta

- Anita! Anita! Espera aí!

Anita andava rápido, queria sumir daquele lugar, mal via o que estava ao seu redor, tudo embaçara em volta de si... De repente, o mundo inteiro era um quadro em branco e preto. Ouvia alguém gritando seu nome, mas queria ir embora sem dar explicações... Ao chegar à porta do carro, sentira a mão de alguém em seu ombro e gritou. Virou-se e viu Rodrigo, resfolegando, pálido, trêmulo, nervoso, suado, a boca semi-aberta, os olhos lacrimejando...

- Rodrigo... O que você tá fazendo aqui?? Por que veio atrás de mim?? Preciso ir... Mamãe não está muito bem... (Sabia que qualquer outra desculpa não seria convincente)
- Anita... Desculpe-me!
- Não! Você não precisa pedir desculpas por nada... Tá tudo bem!
- Anita...
- Rodrigo, não temos que ter esta conversa. Preciso ir agora!
- Escute-me! Preciso que você saiba de algo...

Rodrigo se aproximou... Anita sentiu o corpo dele colar ao seu, sentiu a respiração ofegante e quente mais próxima, sentiu a mão apertar-lhe a cintura, sentiu as pernas amolecerem e as borboletas revoarem dentro de si, sentiu a cabeça pendendo, o corpo como se estivesse derretendo, os lábios se entregando ao beijo de Rodrigo. Aquele beijo intenso, apaixonado, o único beijo que fazia seu coração pular, um beijo terno e sensual, um beijo doce e quente, um beijo... Sim, ela estava beijando Rodrigo novamente!!! Como assim?!?!? Ele acabara de pedir Ravenna em casamento e cantara para esta a música deles dois!!!

- Rodrigo!!! - Gritou Ravenna ao ver a cena e milésimos de segundos antes de explodir em choro.

Anita ficou atônita. Não sabia se entrava no carro e fugia dali, ou se acalmava a noiva (será que ainda era?) de Rodrigo. Não sabia se lhe dava um tapa na cara ou se pegava sua mão e escapava de lá. Não sabia se sorria ou se chorava. Não sabia se aquilo era uma prova de amor ou uma cafagestagem. Não teve nem tempo de pensar, de colocar as idéias no lugar, de arquitetar argumentos plausíveis e irrefutáveis para convencer Ravenna de que não era nada do que ela estava pensando, não refletiu sobre nada, nem percebeu direito o que de fato estava acontecendo. Só ouvia os soluços de Ravenna e os saltos de seu coração...
Rodrigo segurou com força sua mão, olhou para Ravenna com piedade, disse que sentia muito, mas que não viveria mais uma mentira, não queria errar novamente. Olhou nos olhos de Anita, pediu-a que abrisse o carro e saíram juntos de lá, cantando “There’s nothing for me but to love you, just the way you look tonight...”