aberta ao mundo

Ando pela vida como se abertos estivessem todos os caminhos do mundo. (Mário Quintana)

25.5.05

Um oceano a separar
(em 25/05/2005)


Talvez o sorriso, talvez o olhar
Talvez instinto, talvez um par
Não sei a razão nem o que há
Sem definição, impossível disfarçar
Os outros percebem o que está no ar
E percebendo, entendem os olhos de mar
E entendendo, torcem para o amar
Todos sabem, eles teimam em negar

Seguem errando um erro palpável
Seguem brincando com o inevitável
Seguem lutando contra o insuportável
Seguem fingindo o indisfarçável
Seguem sorrindo para o desejável
Seguem entendendo o indecifrável
Seguem sonhando o beijo interminável
Porque um é para o outro um ser amável

O tempo não fez o sentimento esvanecer
A luta segue entre o querer-nãoquerer
Como kamikazes, teimam em oferecer
A dádiva do perfeito amor para morrer
Terceiros até tentam aparecer
Lúcidos,querem obrigá-los a perceber
Que não faz sentido tanto querer
Ainda assim, eles preferem escolher

De repente, a alma solta um grito
O mundo inteiro entra num louco giro
E então se dão conta do infinito
Da imensidão do que não precisa ser dito

Por fim, não dá mais pra disfarçar
Por fim, a vida teima em passar
Por fim, o oceano a separar
E o sentimento ainda está lá.



Chico Buarque - Futuros Amantes

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar
E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos
Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização
Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você