aberta ao mundo

Ando pela vida como se abertos estivessem todos os caminhos do mundo. (Mário Quintana)

5.5.05

Do ódio

Por mais que o nosso sentimentalismo cristão puna este sentimento, por mais que a Bíblia apregoe que devamos mostrar a outra face, ele é tão comum que a gente não cansa de conjugar o verbo: eu odeio, tu odeias, ele odeia... Não, não é todo dia, nem sempre é assim, mas existem certas coisinhas que são absolutamente intragáveis, detestáveis, repugnantes...

Odeio quando acho que a noite foi formidável e o filhudapiiiii some sem dar notícia. Odeio quando diz que vai ligar e não liga. Odeio quando me vê , depois de séculos de sumiço, numa balada qualquer, e vem me dizer que está com saudade. Odeio homem grude, que liga já no dia seguinte, que pergunta dez mil vezes quando a gente vai se ver de novo, e porque eu não posso saire o que eu estou fazendo e com quem tenho falado. Odeio cara que pega no pé, não me deixa respirar, vive me cercando e se informando sobre minha vida. Deixa a coisa acontecer, piiii!

Odeio homens que olham para bundas como se admirassem uma carne pendurada no açougue. Odeio mais ainda aqueles cuja auto-estima ultrapassa com vantagem o ponto mais alto do Everest, vivem como se não pisassem o chão e estivessem com um permanente torcicolo, que os impedem de baixar e/ou girar o pescoço. São egoístas, egocêntricos, e geralmente, muito ruins de cama, se preocupam apenas com o próprio prazer e esquecem que ali, ao lado, existe alguém.

Odeio com todas as minhas forças acordar cedo e só o faço porque é realmente necessário. Prefiro o frescor da aurora, a caminha morna... De manhã cedinho é a hora do sono mais gostoso. Mesmo assim, essa humanidade insana inventou que a jornada de trabalho deveria ter oito horas e começaria às oito, que as aulas na escola deveriam começar às sete, que malhar de manhã faz bem e te deixa disposta... E, sem perceber, passamos a vida toda dormindo menos que gostaríamos.

Odeio com todas as minhas forças gente falsa, daquele tipo que dá beijinho de um lado e do outro com a bochecha e sem encostá-la, dá gritinhos e sorrisinhos que não convencem nem criança e falam tudo no diminutivo. Quando você vira as costas, puxa alguém e fofoca ao ouvido absurdos e mentiras... Odeio mais ainda quem fala mal da vida alheia. Se for para falar de alguém, fale que a pessoa tá bonita, tá mais magra, que tá feliz com o namorado novo, que passou num concurso dificílimo... Mas ficar inventando coisas, piiiiiiii, é sem perdão! Odeio as mulheres fúteis, fáceis, atiradas, burras, desmerecedoras da condição que têm, que envergonham a classe. Bem como odeio as frustradas, limitadas, mal amadas (ou mal comidas). Tem que haver um meio termo.

Odeio quando o feriado cai no fim de semana. Odeio o estresse da mamãe. Odeio fazer prova e entrevista. Odeio roer minhas unhas (embora seja muito custoso me livrar deste vício). Odeio operadoras de telemarketing, com seu jeito de estarem importunando a gente, enquanto estão insistindo para que estejamos adquirindo um produto cuja qualidade está sendo comprovada e cujo preço está sendo o melhor de todos os tempos, entendeu senhora fulana? Odeio propaganda sem graça, principalmente as das Casas Bahia e congêneres. Odeio a televisão aberta aos domingos. Odeio não ter dinheiro para trocar o carro, comprar um perfume que eu adoro, viajar para França, acabar meu momento down no shopping.

Odeio me sentir sozinha, carente. Odeio a sensação de que meus melhores amigos estão do outro lado do mundo e de que todos estão indo embora, e eu continuo aqui. Odeio não ter uma presença masculina pra fazer charminho, para dormir no ombro, para preencher minhas tardes quentes de domingo e o nada para fazer. Sim, porque é fácil se esquecer que está sozinha durante a semana, em que se tem mil coisas para resolver, falta tempo até para comer... Mas no domingo à tarde, quando a tevê dá claros sinais de sua decadência, sua família está entretida com coisas mais atraentes, seus amigos estão ocupados com seus respectivos, você se sente um ninguém...

Odeio o feminismo! Sim, eu quero casar, quero um cara que me banque, quero flores e porta do carro aberta, quero ouvir o pedido de namoro, de noivado, de casamento. Odeio ter que ser independente, bem resolvida, bem sucedida, bem vestida, bem feita, inteligente, falar outros idiomas, odeio! Quero é cuidar dos filhos e mandar alguém arrumar a casa. Sair para gastar o dinheiro dele no shopping com maquiagem e perfumes e lingeries.

Odeio pessoas fedorentas, eles que me desculpem, mas o cheiro é fundamental. Odeio gente que tem caspa! Odeio unhas dos pés pintadas de francesinha. Aliás, odeio patricinhas e seus cabelos tingidos de loiro, suas unhas pintadas de renda, seus cadernos-canetas-papéis-roupas cor-de-rosa. Odeio gente fresca, que não gosta de aventura, que não desmancha o penteado, que não bota o pé no chão, que não bebe em boteco de esquina, que não come churrasquinho de gato, que não sai para as noitadas sem rumo e em lugares inimagináveis, que não toma banho de chuva, que não dá um mergulho no mar com roupa e tudo, que não chega em casa de manhã, que não toma seus pileques...

Odeio quem comemora como a vitória na Copa do Mundo porque passou numa faculdade que até analfabeto passa. Odeio dúvidas, me sentir dividida, confusa, indecisa. Odeio gente que só fala em carros e corpos, discutamos coisas mais significativas! Odeio tiozinhos t(s)arados, cuja estupidez beira o ridículo, entra na crise dos quarenta e sai querendo ter vinte, paquerando meninas, farreando e bebendo como se não tivesse filhos pré-adolescentes para criar.

Odeio a concentração de renda brasileira e odeio ainda mais a corrupção institucionalizada, o “jeitinho” de se resolver problemas, odeio policiais que aceitam suborno, odeio juízes que vendem sentenças, odeio pessoas que vendem a alma, o sonho, o desejo dos outros e até os seus por um trocado qualquer. Odeio a Igreja Universal. Aliás, eu odeio a Igreja como um todo, todas elas! Odeio briga de torcida, odeio a sensação de insegurança quando saio de casa à noite, sozinha. Odeio depender de transporte público. Odeio não acreditar mais nos políticos e me decepcionar com o sonho de mudança. Odeio não ver perspectiva de melhora. Odeio perder a esperança e ainda assim ter esperança.

Odeio tudo isso e tantas coisas mais...
Mas eu amo demais tantas outras!

-----------------------------------------------------------------------------------------------------
Caros amigos que passam sempre por aqui, meu aniversário é dia 22/05, para aqueles que moram em Fortaleza, convido-os para a comemoração que ocorrerá no domingo, 22/05, na Geppos da Beira Mar, a partir das 19:ooh. Quem quiser comparecer, é só avisar porque preciso reservar mesas suficientes!
Para os de fora, se quiserem marcar presença, serão muito bem vindos, ressaltando que a quinta feira seguinte, 26/05, será feriado. Pense aí: uma semaninha em Fortaleza, hein?