aberta ao mundo

Ando pela vida como se abertos estivessem todos os caminhos do mundo. (Mário Quintana)

24.1.05

Desconfigurando

“Pane no sistema alguém me desconfigurou!”

Sempre acreditei que fosse uma pessoa de opinião, idéias na cabeça, que digerisse o que via, vivia e compreendia do mundo e transformasse tudo isso em algo de concreto dentro de mim. Sempre acreditei que não fosse o tipo de menina fútil, superficial e influenciável. Acreditava que era capaz de formular minhas próprias idéias e ideais. Sempre pensei que eu soubesse o que queria, onde queria, como chegar lá.

Doce ilusão. Sou uma adequada, conformada, qualquer uma. Estou engolida pelo “sistema”, pela “moda”, pelo o que os outros esperam de mim. Sou exatamente o que a sociedade espera que eu seja. Sou o futuro da nação. Sou um exemplo a ser seguido?!?! Definitivamente, NÃO!!!

Ser o que muitos pais hipócritas sonham para as filhas, a namorada para os filhos: uma menina classe média (isso ainda existe?), estudante de Direito da UFC, futuro promissor (?), algo a acrescentar, culta (?), que fala outros idiomas (poliglota é pedantismo demais para o meu inglês fraco e o francês arrastado), bem relacionada?!?! Blaaaahhhh! Não que eu não reconheça os méritos da aprovação num dos vestibulares mais disputados do Estado, quiçá do país; não que eu não ame e valorize demais minha faculdade; não que eu não reconheça o quanto sou privilegiada no país dos analfabetos e alfabetizados que só assinam o nome, não que eu ache grande coisa tudo isso e me sinta orgulhosa de ter conquistado este STATUS. Mas não passa disso, é só status! Nada demais, nada a mais.

Queria reconhecer em mim algo que fosse verdadeiramente meu, algo por mim criado, algo que não fosse influenciado, copiado e colado, imitado, injetado. Queria que existisse em mim algo para além das conveniências e modismos. Algo puramente meu, genuíno, único, intrínseco. Queria apenas ser EU!

Será que eu gosto mesmo desta roupa ou uso porque é conveniente ou moda? O que é bonito??? O que é bom? O que é o melhor para alguém? Por que precisamos encontrar alguém? Quem disse que existe alma gêmea, par perfeito??? Por que temos que trabalhar oito horas por dia? Por que trabalhar? Por que perder os melhores anos de nossas vidas em frente a uma tela luminosa, em salas refrigeradas, em ambientes de pessoas fingidas, falsas, hipócritas, que sorriem e difamam, a-do-ram alguém e desmerecem o trabalho que este alguém produz, são amigos e tentam a todo custo puxar o tapete? Para garantir meu futuro? Por que não curtir o sol, vê-lo nascer e se pôr, beber uma cervejinha gelada depois das três? Por que não estudar artes ou música (meu pai teria uma resposta na ponta da língua para essa pergunta: “você quer morrer de fome?”). Não entendo como estudar por obrigação, para ser alguém! Estuda-se aquilo que se gosta, que se tem prazer! Lê-se aquilo que é atraente, prazeroso! Ama-se, não o belo, mas o que tem química!

E se eu quiser usar o cabelo verde? Vestir uma roupa roxa com bolinhas amarelas? Se eu quiser ouvir Reginaldo Rossi no último volume cantando aos gritos? Se eu quiser andar de ré? Se eu quiser largar a faculdade para dar a volta ao mundo com um real? Se eu decidir que odeio o Direito e minha vida é pintar paredes? E daí? Quem define os conceitos de ridículo, feio e bonito, brega e cult, certo e errado?!?! A quem eu outorguei poderes para decidir como viver minha vida? Tudo isso são apenas conceitos, idéias. A maioria delas nos é imposta. Não me escutaram. Não perguntaram se eu tinha alguma coisa contra, não me deram a opção de falar agora ou calar-me para sempre.

Quero ser subversiva! Quero quebrar todos os paradigmas, quero ser única, diferente dos demais, quero reconhecer em mim uma personalidade peculiar e minha! Quero ser eu! Quero poder exercer o livre arbítrio a que tenho direito? Quero ter direito a voto? Impugno desde já tudo o que é conveniente e cômodo. Protesto contra toda forma de alienação e subserviência! Cada um por si e viva a autenticidade!

“Lá vem eles novamente, eu sei o que vão fazer, reinstalar o sistema: PENSE, FALE, COMPRE, BEBA, LEIA, VOTE NÃO SE ESQUEÇA, USE, SEJA, OUÇA, DIGA, TENHA, MORE, GASTE, VIVA...”