aberta ao mundo

Ando pela vida como se abertos estivessem todos os caminhos do mundo. (Mário Quintana)

3.1.05

Sobre mim!

Tava aqui ainda sofrendo com a rebordosa do reveillon inesquecível em Jeri, pensando no que escrever, sobre o quê? Contar para o mundo, redigir neste diário virtual um pouco das emoções que me tomaram na virada do Ano. Todavia, algo preso em mim não consegue explodir.

Normalmente as palavras fluem e em poucos minutos já está lá: minha vida inteira escancarada. Ouvi neste reveillon alguém me dizer que sentia como se me conhecesse muito bem, pois era leitor voraz dos meus textos. É assim mesmo. Tela na frente, dedos ágeis, poucos minutos e tudo que sei e que sinto em poucas palavras, para todo mundo ver, rebater, contestar.

Mas dessa vez, não. Tá tudo entalado, engasgado. Quero rir muito e chorar, quero ser mais responsável e abandonar meus estudos e o estágio, quero namorar sério e curtir as baladas sozinha, quero fazer um mochilão de 6 meses na Europa e me formar ainda este ano, quero Carnaval em Olinda e no Presídio com a galera da faculdade, quero emagrecer e jantar um sanduba todos os dias, quero coca-cola no almoço e não ter problemas estomacais, quero sair no domingo à noite e acordar bem e disposta para trabalhar na segunda, quero tudo ao mesmo tempo agora.

Sempre fui assim, egoísta, egocêntrica, inquieta, independente. Meus desejos têm que ser atendidos de plano; se não, faço beicinho, choro. Minhas palavras têm que ser ouvidas, entendidas, assimiladas e anuídas; se não, não descanso. Meus argumentos são sempre irrefutáveis e não adianta contra-argumentar. Minhas vontades não têm limites nem freios. Sou impulsiva, imediatista, ansiosa, ousada. Corro atrás do que quero, gosto de resolver as coisas logo, fazer as coisas do meu jeito. Odeio esperar, não só no sentido temporal, mas também criar expectativas. Odeio depender de outrem. Odeio gente fresca. Odeio futilidades, superficialidades. Não importa a marca da sua roupa ou do seu carro. Não me importa se seus pais ganham mil ou dez mil ou cem mil, o dinheiro é deles e não seu, construa você sua própria fortuna! Não importa se faz sol ou se chove quando meus amigos resolvem se reunir para tomar uma. Importante para mim é o que se tem a acrescentar àqueles que nos cercam. Importante mesmo é bater a cabeça e não acertar mais o mesmo lugar, porque batê-la de novo é previsível e inevitável. Importante é ter alguém com quem conversar, alguém que te faça suspirar, alguém com quem se possa contar, alguém em cujo colo você possa chorar, alguém para quem ligar de madrugada, alguém para tomar todas até virar a perna, alguém para recontar as histórias da infância, alguém para chegar ao céu com mil carícias, alguém que te ensine a ser adulto, alguém que sirva de exemplo para a pessoa que você quer ser no futuro, alguém que faça você crescer... Pode parecer clichê, mas as pessoas são o que são e não, o que têm. Sou isso mesmo, este poço profundo de defeitos e algumas qualidades e, no entanto, não quero mudar.

Não há nada mais condizente com que escrevi no post anterior do que este texto. Minha personalidade aí, destilada nestas linhas. Poderia ter comentado acerca do pôr do sol inenarrável que vi em Jeri. Poderia ter contado porque chorei nos primeiros quinze minutos deste ano (Ju e Bruno, embora a gente não tenha se falado, eu AMO VOCÊS e fechei os olhos pedindo tudo de bom para ambos!). Poderia contar que a minha turma destruiu Jeri ou dizer o mal que causa não usar filtro solar e sair para caminhar na praia em pleno meio dia. Também poderia escrever um artigo turístico sobre Jericoacoara ou quem sabe ainda contar para todos a história do macaco que tava comendo milho em cima da carnaubeira. Mas não, nada disso convém.

Como disse no post anterior, em 2005 não quero planejar e ainda quero voar livre pelo mundo. Se pudesse haver um símbolo para este ano, como um amigo disse, seria um ponto de interrogação. Não sei o que acontecerá, mas tenho fé na vida e confio que a brisa que carrega a folha seca do meu destino soprará para um ilha caribenha, onde o sol brilha todos os dias, o clima é simplesmente agradável e eu me balanço numa rede embaixo de um coqueiro. Vida mansa, sombra e água fresca. Acho que tô precisando de férias!