Inverso
Ela sabia. Ela sempre soube. A gente sempre sabe. Mas, no fundo, achou que por ser um não resolvido, que por ser sem lógica, que por ser sem sentido; ele levaria a coisa como ela levava: sem comprometer os órgãos vitais. As bocas se encontravam, as mãos se buscavam, os olhos se viam; mas o cérebro não trabalhava em slow motion por causa daquilo, o coração não parava de bater por alguns segundos, o ar não faltava nos pulmões.
Ela queria que fosse assim, se trabalhou pra ser assim, se esforçou pra agir assim e conseguiu controlar o próprio vulcão. Ele não. Seria uma mentira deslavada se ela dissesse que não suspeitara da força daquele sentimento. Não sabia, porém, da consistência e das proporções. Ele sabia o que construía desde o começo; mas o silêncio dele fez com que ela deixasse a coisa seguir e não fizesse nenhuma tentativa de evitá-lo. Era impossível demais para que ultrapasse o limite do ponderável. Era distante demais para que se tornasse algo palpável. Era problema demais para quem tava cansada de sofrer. E assim foi.
Ela queria se divertir. Ele queria explodir. Ela queria alguém pra conversar. Ele queria alguém pra vida. Ela queria um amigo with benefits. Ele queria um grande amor. Ela queria possibilidades. Ele queria soluções. Ela queria leveza. Ele queria contrato. Ela queria sorrisos. Ele queria amassos. Ela queria confidências. Ele queria juras de amor. Ela queria companheirismo. Ele queria paixão. E nestes termos, ele pediu e esperou deferimento. Ela extinguiu o processo sem julgamento de mérito por impossibilidade jurídica do pedido.
Dois corações em frangalhos.
PS: Que desfecho mais non sense!
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Juazeiro teve muitos encantos. Revi grandes amigos, me diverti, dormi como há tempos não fazia, cortei o cabelo e estou com ar renovado. Voltei com a bateria carregada.
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