aberta ao mundo

Ando pela vida como se abertos estivessem todos os caminhos do mundo. (Mário Quintana)

9.7.05

Saindo de Cena

"There's always that one person that will always
have your heart...

You'll never see it coming cause you're blinded
from the start..."

(My boo - Usher and Alicia Keys)


Ela descobriu, depois de um longo tempo, o sentimento escondido nos recônditos de sua alma. A explosão causada pela pressão com que comprimira toda aquela emoção fez com que ela inundasse mais uma vez sua vida, seus espaços, seu quarto, seus cantos. E como não podia mais guardá-la, derramou tudo sobre ele, entre soluços e lágrimas. Disse mais do que precisava ser dito, expôs-se, mostrou a ferida para que ele curasse... Ele deu de ombros e apenas disse que era tarde. E foi.
Ela não se conformou. Não acreditava que tanto sentimento poderia simplesmente sublimar. Se ainda existia nela, deveria existir em algum lugar dele. Buscou de todas as formas o dispositivo que acionaria a dinamite com que ele cercara todo o sentimento. Tentou mostrar que ainda tinha como ser. Tentou fazê-lo entender que "they were meant to be". Tentou provar que ela não era mais a menina de anos atrás. Tentou mostrar que o vazio era decorrente apenas da falta. Tentou argumentar que as diferenças não são tão gritantes e sim, perfeitamente superáveis. Tentou dizer que valia a pena, que não poderiam deixar isso tudo escapar, que poderia ser pra vida toda... Ela tentou e só ouviu palavras desconcertantes. Descompensou...
Ela disse para seus botões que não desistiria facilmente dele. Jurou que o faria perceber. Quanto mais argumentos ela usava, mais eles discutiam, mais discordavam, mais se machucavam, mais se distanciavam, mais desconstruiam o caminho de volta. Ela chorou.
Hoje, passeando pela internet, viajando pelos sítios dele neste mundo de exposição e pouquíssima privacidade, descobriu que ela não existe mais há muito. Sua insistência causou repugnância. Suas palavras causaram irritação. Seu sentimento causou piedade. Suas tentativas foram em vão.
Hoje, ela percebeu que ele faz promessas de casamento a terceiras pessoas; que ele mantém uma nova rotina de vida, da qual ela simplesmente não faz parte; que ele faz questão de manter uma distância razoável dela para que não se infeste de novo de sua presença... Assim, sem mais nem menos, ela percebeu o quão idiota estava sendo e resolveu sair de cena.
Diminuam as luzes, deixe-a desaparecer na penumbra... Cai o pano, fecham-se as cortinas.