Não a choreis...
A vozinha de menina e o sorriso de moleca encravados num corpão de mulherão que a fazia se destacar entre as demais. Uma alegria genuína, uma companhia sempre bem vinda, uma simpatia, um doce de menina, uma amiga divertida, um ser humano incrível naquela alma feminina. Sabia do poder que tinha sobre os homens, sabia a maneira certa de fazê-los chamar seu nome. Sabia o movimento certo, o momento exato, o jeito perfeito... Ela tinha aquele andar que parece estar cercado por um vento cor de rosa e perfumado. Ela tinha aquele ar blasé que só as belas mulheres têm. E ela andava por aí, nos bares, nas boates, nas festas... Hoje não anda mais.
Minha singela homenagem a esta moça que fez parte da minha vida.
Um poema do Manuel Bandeira parece-me que foi feito pra ela:
Inscrição
Aqui, sob esta pedra, onde o orvalho roreja,
Repousa, embalsamado em óleos vegetais,
O alvo corpo de quem, como uma ave que adeja,
Dançava descuidosa, e hoje não dança mais ...
Quem não a viu é bem provável que não veja
Outro conjunto igual de partes naturais.
Os véus tinham-lhe ciúmes. Outras, tinham-lhe inveja.
E ao fitá-la os varões tinham pasmos sensuais.
A morte surpreendeu um dia que sonhava.
Ao pôr do sol, desceu entre sombra fiéis
À terra, sobre a qual tão de leve pesava...
Eram as suas mãos mais lindas sem anéis...
Tinha os olhos azuis... Era loura e dançava...
Seu destino foi curto e bom...
- Não a choreis.
E ainda assim eu choro, ainda assim me pergunto o porquê. Não queria acreditar que ela fez o que fez. A sensação de impotência é estarrecedora. A culpa pela omissão sobre o que você não poderia evitar. A dor e o aperto no peito que insistem em doer e não querem passar. Eu continuo a chorar...
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